O
tubista José Renato. Foto: David da Silva – 09.nov.2010
Dona
Magna vivia preocupada com a mania do filho José Renato se enfiar na frente da
televisão a tarde toda, depois da escola. “Quer treinar judô, filho?”, sugeria
com sutileza. Nada feito. A mãe apelava para o óbvio: “Renato... vai jogar
bola!”. O moleque nem se mexia.
Foi
daí que a vizinha Marlene botou fim na preguiça do menino. Voltando do seu
trabalho na Escola Estadual Antonio Inácio Maciel, na mesma avenida ela viu o
entra e sai na Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que em 2003
funcionava no local conhecido por Cepim, no Jardim Maria Rosa. “Tá assim de
crianças lá aprendendo música”, contou Marlene para a esperançosa amiga Magna.
“Vai aprender música, Zé Renato!!!”. Quem disse que o pirralho de 12 anos se
animou? Ela que não grudasse na mão do garoto pra ver se ele ia sozinho se
inscrever...
Dez
anos depois, o nome de José Renato Alexandre Siqueira figura no elenco da
Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, e na Orquestra Sinfônica
Jovem Municipal de Guarulhos. Formado bacharel em música no final de 2012, pela
Faculdade Integrada Cantareira. O que não é pouco para um rapaz taboanense que
ainda vai fazer 22 anos daqui a uma semana, no próximo dia 19 de março.
“Aquele bemol bonito...”
O
método revolucionário do maestro Edison Ferreira do Nascimento consiste em
deixar que a própria criança escolha seu instrumento. Mas no primeiro dia de
aula, enquanto os coleguinhas apontavam o que queriam tocar, Renato ficou
esparramadão diante da TV.
No
dia seguinte, foi no embalo da maioria que havia escolhido o trompete. O
maestro não entrega imediatamente o instrumento ao aluno. Dá apenas o bocal,
para treinar a emissão do ar entre os lábios cerrados, fazendo-os vibrar
(técnica conhecida por “abelhinha” pois reproduz som semelhante a um zumbido).
Dois ou três dias depois de testar a embocadura, a criança vai soprar o
instrumento. Renato: pffiiiii... Desprezado pelo trompete, tentou a sorte no
trombone. Outra decepção.
“Daí
me mostraram uma tuba, e eu enchi os olhos com aquele instrumento grandão, todo
prateado”, relembra o músico, ainda carregando na retina o brilho daquela
paixão instantânea. “E quando eu fui soprar na tuba pela primeira vez, já saiu
aquele si bemol bonito”, conta com gosto.
Maestro
Edison Ferreira e Zé Renato – Foto: David da Silva
Escala rápida
Entrevista
com Renato vira imediatamente aula sobre a história da tuba. O cara tem o dom
de ensinar. Em poucos minutos fiz uma viagem desde 1835, quando o antepassado
mais remoto da tuba se chamava serpentão. Passamos pelas modernizações do
instrumento rebatizado de hélicon, souzaphone, e outros que tais. Mas o que
prevalece é o velho e bom nome tuba (do latim = tubo, cilindro de ar).
Aos
15 anos de idade Renato já estava na Escola Municipal de Música de São Paulo.
Lá teve o primeiro semestre de aulas com o afamado tubista Dráuzio Chagas, o popular
Boi. Que por coincidência também mora em Taboão da Serra, onde Renato nasceu e
vive. Mais fantástico ainda é o fato de o mestre Dráuzio e o jovem musicista
Renato residirem no mesmo bairro Parque Pinheiros. Mas o destino só os uniu na
escola da capital paulista.
Subindo
rapidamente no aprendizado da tuba, Renato conta hoje em seu currículo com
mestres da alta estirpe como Luiz Ricardo Serralheiro (Popô) e Marcos dos
Anjos, tubista solo da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
Talentos novos e antigos
À
parte seu dom pedagógico, algo me indica que Renato irá mesmo seguir a carreira
de intérprete. Sua próxima meta é prestar concurso para a Academia da OSESP.
E
logo a campânula de sua tuba vai se igualar à dos seus ídolos.
A
geografia urbana já mostrou que, numa mesma cidade e até num mesmo bairro, é
possível surgir duas gerações de executores de um instrumento que exige um
apuro técnico e preparo físico pouco acima do normal.
A
poucos metros da casa de Renato, no bairro Parque Pinheiros, Taboão da Serra,
reside um dos maiores nomes da tuba no Brasil.
O
professor Dráuzio Chagas, o Boi, integrou a OSESP, a orquestra do Theatro
Municipal de São Paulo e a Jazz Sinfônica.
Sua
tuba aparece em importantes discos da MPB com Milton Nascimento, Toquinho Vinícius, Caetano Veloso e no revolucionário álbum Tubarões Voadores,
de Arrigo Barnabé.
Professor
Dráuzio Chagas durante uma de suas aulas
6 comentários:
Agora que mostraram umas das jóias que existem aqui em Taboão é uma crueldade não nos deixarem apreciar.
Que tal uma apresentação?
José Renato, ou apenas Zé para os mais íntimos! (: Tenho grande orgulho desse meu grande amigo. É um verdadeiro exemplo de dedicação. Tive o prazer de conhecê-lo há alguns anos atrás no Músicos do Futuro e sempre foi um grande incentivador. Lembro-me quando nos encontrávamos no mesmo ônibus às 5h30 da manhã a caminho da faculdade, eu com o violoncelo e ele com a boa e velha tuba! Os outros passageiros queriam nos matar haha Parabéns Zé! Tudo de melhor na sua vida (: Beijão, Rô!
David muito obrigado! Minha curta e singela história ficou muito bonita em suas palavras.
Espero um dia dominar as notas musicais do jeito que você domina as palavras, e tornar minha música tão atraente ao ouvinte como é seu texto aos leitores.
Obrigado
Que orgulho e presentão no dia do seu aniversário para a sua família Renatinho!!!
David, a boa semente cai em terra fértil e produz frutos como o Zé Renato. Parabéns ao maestro Edson e aos que araram e fertilizaram a terra.
Grande Zé!!! Toca muito.
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