“Eu estou com uma blusa amarela, uma calça cinza e uma
mala marrom te esperando”, diz um homem ao telefone no Aeroporto de Congonhas,
em São Paulo, em meados de 1982. “Vou buscar você com um carro prata”, diz o
outro.
Foi assim que nasceu a música Aquarela, uma das obras mais populares do violonista Toquinho.
Maioria das pessoas que ouve esta canção logo a associa com a imagem de Toquinho
e seu violão ao lado do poeta Vinícius de Moraes. Mas Vinícius já estava morto dois
anos antes de Aquarela. Que nem veio
ao mundo com este nome. Nasceu italiana, batizada Acquarello.
A vinculação de Toquinho com Vinícius de Moraes se deve
aos 11 anos em que foram parceiros – de 1969 a 1980, quando o poeta faleceu
(Toquinho estava com ele quando deu o último suspiro). E a confusão é porque a
primeira parte de Aquarela é
justamente uma canção que Toquinho e Vinícius fizeram em 1974, intitulada Uma Rosa em Minha Mão, sob encomenda
para a novela Fogo Sobre Terra, da TV
Globo – naquela novela, os dois foram contratados para compor toda a trilha
sonora nacional.
O diálogo no aeroporto que abre este texto foi entre
Toquinho e o pianista italiano Maurizio Fabrizio, no meio do ano de 1982. A união
dos dois foi uma jogada de marketing do empresário Franco Fontana. Ele tinha
criado a gravadora Maracanã, para trabalhar com a MPB junto ao mercado fonográfico
da Itália. Queria um disco de Toquinho só com inéditas. Maurizio tinha vencido
o Festival de Música de San Remo, e o empresário viu algo de comum entre ele e
Toquinho. Mandou-o ao Brasil, para fazer algumas músicas com o nosso
violonista. Nascia ali uma parceria que rendeu quatro discos entre 1983 e 1994.
É o próprio Toquinho quem nos conta:
“Eu nuca tinha visto o Maurizio na vida. Não sabia quem
era. Por isto tivemos que nos descrever daquele jeito para eu reconhecê-lo no aeroporto.
Chegamos em casa, e ele foi dar um cochilo”.
Toquinho é extremamente profissional. Foi ele quem botou
Vinícius no eixo em termos de produção de músicas, e obediência a horários e
prazos. Com Maurizio Fabrizio também não teve moleza. Terminado o almoço:
“Nós temos que fazer músicas”, disse Toquinho. “Peguei
meu violão e Maurizio foi para uma pianolinha que eu tinha em casa – uma coisinha
ridícula (risos). Daí ele começou a
tocar uma música. Achei chata a primeira parte. Mas quando entrou na segunda
parte, eu lembrei da Uma Rosa em Minha
Mão. Toquei pra o Maurizio ouvir, e assim que terminei ele atacou com a
segunda parte da música dele. Tudo se encaixou logo de primeira. Gastamos nem três
minutos para fazer o que seria conhecido como Acquarello.”
Nascia ali um dos maiores fenômenos da música no Brasil e
na Itália. Apesar disto, Toquinho não se tocou que tinha um tesouro nas mãos.
“Achei bonita, mas não confiava nela como sucesso.
Partimos pra outras composições, fizemos outras 8 músicas nos dias seguintes. O
Maurizio voltou pra terra dele, foi fazer os arranjos e entregar para o Guido
Morra colocar as letras”.
Em novembro de 1982 Toquinho foi à Itália gravar o disco
com as músicas novas:
“Nunca vou esquecer. Eu estava num restaurante quando
chegaram o Maurizio e o Guido letrista para mostrar as músicas. Deixaram Acquarello por último. A música tem
versos mágicos. Desperta a criança que temos dentro da gente, reforça o
romantismo da amizade, avisa as delícias de se ganhar o mundo com a rapidez da
modernidade. Mas também nos alerta que tudo um dia vai perder a cor. É o enigma
do futuro que guarda no bojo a ação implacável do tempo”, analisa Toquinho.
Lançado em San Remo, o disco vendeu 30 mil cópias em dois
dias. De volta ao Brasil, Toquinho teve de voar de novo para a Itália, tão
grande o clamor popular pela canção. Já havia vendido 100 mil discos. Foi o
primeiro artista brasileiro a ganhar um Disco de Ouro na Itália:
“Virei artista popular fora do Brasil”, vibra o
violonista. “As pessoas também passaram a me reconhecer como violonista”.
Os que conhecemos a MPB já sabíamos em 1982 que Toquinho
é um virtuose no violão, tendo sido
aluno de Paulinho Nogueira, e discípulo de Baden Powell. Mas o grande público
só se ligou no violão imenso que ele toca no magnífico solo de improviso de Acquarello, que logo ganhou versão
brasileira:
“Logo que ouvi a letra italiana, me empolguei em fazer a
tradução. Sabia das dificuldades, pois é uma letra grande. Tive que mudar muita
coisa, para preservar na nossa língua aquela magia que o Guido Morra dizia em
italiano”.
A convivência de longos anos de Toquinho com o poeta
Vinícius, acabaram lhe valendo habilidade também com as palavras:
“Quando comecei a escrever a tradução de Acquarello para o português, começou a
sair um negócio bonito. Nem eu mesmo sabia o que era. Esta música tem a força
da ingenuidade infantil. É também ligada a um encanto popular que emociona. Já
no primeiro acorde do violão as pessoas ficam tomadas pela música”, diz
Toquinho.
Aquarela
estourou rapidamente nas paradas de sucesso do Brasil, repetindo aqui o
acontecido com Acquarello na Itália.
Quando recebeu a letra em castelhano de I. Baldacchi, o estouro se repetiu na Espanha,
Argentina e toda a América Latina.
Aqui a canção gravada em 1974, cuja melodia integra a primeira parte de
Aquarela
Procurei um lugar com
meu céu e meu mar, não achei
Procurei o meu par,
só desgosto e pesar encontrei
Onde anda meu rei, que
me deixa tão só por aí
A quem tanto
busquei, e de tanto que andei, me perdi.
Quem me dera
encontrar,
Ter meu céu, ter
meu mar, ter meu chão.
Ver meu campo
florir
E uma rosa se abrir
na minha mão
· Toquinho - arrangements, vocals, acoustic
guitar, viola, piano
·
Messias – viola
·
Isidoro Longano (Bolão) –
flute
·
Jorge Henrique da Silva (Cebion) – tambourine
·
Nelson Fernandes Moraes (Branca de Neve) – surdo
·
Rubens de Souza Soares (Rubão) – ganzá
·
Antonio Pecci Filho (Cucho Xulim) – agogô
Aqui o original italiano ao lado da versão brasileira de
Toquinho:
Numa
folha qualquer eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu Vai voando, contornando a imensa curva norte-sul Vou com ela viajando Havaí, Pequim ou Istambul Pinto um barco a vela branco navegando É tanto céu e mar num beijo azul Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião rosa e grená Tudo em volta colorindo, com suas luzes a piscar Basta imaginar e ele está partindo, sereno e lindo E se a gente quiser ele vai pousar Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida De uma América a outra consigo passar num segundo Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo Um menino caminha e caminhando chega no muro E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar Não tem tempo nem piedade nem tem hora de chegar Sem pedir licença muda nossa vida Depois convida a rir ou chorar Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar Vamos todos numa linda passarela De uma aquarela que um dia enfim Descolorirá |
Sopra un foglio di carta lo vedi il sole è giallo, ma se piove, due segni di biro ti danno un ombrello. Gli alberi non son(o) altro che fiaschi di vino girati, se ci metti due tipi là sotto saranno ubriachi, l' erba è sempre verde, e se vedi un punto lontano, non ci scappa: o è il buon Dio o è un gabbiano e va. Verso il mare a volare, e il mare è tutto blu e una nave a navigare, ha una vela, non di più, ma sott'acqua i pesci sanno dove andare dove gli pare non dove vuoi tu. E il cielo sta a guardare, e il cielo è sempre blu, c'è un aereo lassù in alto e l'aereo scende giù, c'è chi a terra lo saluta con la mano va piano piano, fuori dal mare, chissà dove va. Sopra un foglio di carta lo vedi chi viaggia in un treno sono tre buoni amici che mangiano e parlano piano, da un'America all'altra è uno scherzo, ci vuole un secondo basta fare un bel cerchio ed ecco che hai tutto il mondo. Un ragazzo cammina, cammina, arriva ad un muro, chiude gli occhi un momento e davanti si vede il futuro già. E il futuro è un'astronave che non ha tempo né pietà, va su Marte, va dove vuole niente mai, lo sai, la fermerà. Se ci viene incontro, non fa rumore non chiede amore e non le dà. Continuiamo a sognare, lavorare in città, noi che abbiamo un pò paura, ma la paura passerà. Siamo tutti in ballo, siamo sul più bello In un acquarello che scolorirà |
A versão lançada na Espanha:
En los mapas del cielo el
sol siempre es amarillo
Y la lluvia o las nubes no
pueden velar tanto brillo.
Ni los árboles nunca podrán
ocultar el camino
De su luz hacia el bosque
profundo de nuestro destino.
Esa hierba tan verde se ve
como un manto lejano
Que no puede escapar
Que se puede alcanzar solo
con volar.
Siete mares he surcado, siete
mares color azul
Yo soy nave voy navegando,
y mi vela eres tu
Bajo el agua veo peces de
colores
Van donde quieren no los
mandas tu.
Por el cielo va cruzando, por
el cielo color azul,
Un avión que vuela alto
Diez mil metros de altitud.
Desde tierra lo saludan con
la mano,
Se va alejando, no se donde
va,
No se donde va.
Sobre un tramo de vía
cruzando un paisaje de un sueño
En un tren que me lleva de
nuevo a ser muy pequeño
De una américa a otra tan
solo es cuestión de un segundo
Basta un desearlo y podrás
recorrer todo el mundo.
Un muchacho que trepa, que
trepa a lo alto de un muro
Si se siente seguro verá su
futuro con claridad.
Y el futuro es una nave que
por el tiempo volará
A saturno, después de marte,
nadie sabe donde llegará.
Si le ves venir, si te trae
amores, no te los roben sin apurar
Aprovecha los mejores que
después no volverán.
La esperanza jamás se
pierde
Los malos tiempos pasarán
Piensa que el futuro es una
acuarela y tu vida un lienzo que colorear
Que colorear
|
3 comentários:
Encontrei a página pesquisando "Aquarela", li a história da música, ouvi a versão brasileira, conheci a original italiana e a espanhola. Conheci também a música que deu origem a essa obra prima. Quis deixar um comentário sobre as emoções que ela provoca. Cheguei à conclusão que eu não consigo transformar emoções em palavras. Sem comentários.
Uma música que a origem foi de Ary Barbosa em 1939 ,foi regravada em 1974 fez sucesso ,a original é de Ary Barbosa .pq não é contada esta parte da historia ?
Interessam, uma música linda que tive oportunidade de trabalhar como acadêmica em pedagógia é simplesmente mágica
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