Foto: Álbum de família |
“Ele
tinha uma impulsão magnífica, cobrindo muito bem a zaga”. Foi com essa fama que
José Sinopoli, o Zé do Gás, deixou
seu nome gravado na história do futebol amador. Um dos melhores
quarto-zagueiros dos anos 60 na várzea paulistana, Zé do Gás, falecido em junho
do ano passado, será homenageado neste domingo, 25 de março, na finalíssima da 7ª
Copa Verão Master de Futebol em Taboão da Serra.
Em seus
77 anos de vida, Zé do Gás passou a maior parte do tempo trabalhando por conta
própria. “Mas meu pai nunca foi dono de depósito de gás”, diz Adriana Sinopoli,
rindo de uma notícia errada divulgada no falecimento. “Ele comercializou
bichinhos de pelúcia por vários anos quando era solteiro, vendeu uva na rua (o
bordão era: “Olha as uvas do Marengo!”) e teve empresa de serviços de limpeza
até se aposentar em 2013”, conta a filha.
O
apelido veio da época em que José Sinopoli, aos 18 de idade, trabalhou no
escritório da distribuidora Gasbrás.
Uma
insuficiência renal no dia 27 de junho de 2017 pôs fim a uma existência
iniciada em 29 de janeiro de 1940 no bairro paulistano do Bixiga.
Quando
José estava com 10 a 11 anos, a família Sinopoli mudou-se para a Vila Madalena.
Ali o rapaz passou toda a sua infância e juventude, até casar-se aos 33 anos de
idade com Áurea, moça também criada naquele bairro.
Na
segunda metade da década de 1970, Zé do Gás veio morar em Taboão da Serra, onde
tornou-se dirigente do Sossego FC, time fundado em 1989 por Ricardo Piñero, o Doriana, e Aliberto, o Libão, e que Zé do Gás presidiu desde
1996 até a sua morte.
O meia-esquerda Dorinho e Zé do Gás, quarto-zagueiro, em 1962 |
Camisa do Leão do Morro com as marcas do tempo |
Época mágica
“Eu, Zé
do Gás, fico grato em ver que esta época tão mágica ainda está viva”. Com essas
palavras o lendário quarto-zagueiro agradeceu quando foi procurado por um
documentarista em 2012, para relembrar fatos e coisas do Leão do Morro, time
onde ele eternizou seu nome.
O Leão
do Morro foi uma referência numa época e numa região recheada de outras
referências como Serepi (Sociedade Esportiva Recreativa Pinheirense), e o
“Brasil” que jogava no terreno onde hoje é o Shopping Center Eldorado. Pelos lados da Vila
Madalena e Vila Beatriz reinavam, além do Leão do Morro, o Sete de Setembro e o
Primeiro de Maio (que nasceu com o nome Esporte Clube União Operária).
Os
campos de terra eram na Rua Jericó, onde há hoje a E.E. Maximiliano e o Fórum
de Pinheiros, e na esquina da rua Natingui, onde hoje é o conjunto habitacional
do BNH.
Zé do Gás e o seu Leão do Morro foram
campeões da várzea em 1962 contra o Botafogo da Vila Carrão, um verdadeiro
duelo leste-oeste no Torneio dos Clubes Unidos promovido pelo extinto jornal
Última Hora.
Adriana com uma relíquia do pai. Foto: David da Silva |
Em 1969
o Leão do Morro voltou a ser campeão, vencendo por 3x2 o Brasil de Pinheiros. A
partida foi transmitida pela Rede Globo.
Apesar
da distância do tempo, nos encontros de velhos ex-boleiros no bar Calçadão da
Vila, na rua Wisard, ainda ecoam por entre as conversas os nomes de craques com
quem Zé do Gás compartilhou as glórias como: Dorinho, Miura, Carminho, Elinho,
Zé Negão, Sabiá, Delem, Roberto, Palito, Zinho, Mingo, Paulinho, Café, Didi,
Abilio, Casado, o técnico Bonecão e o diretor Álvaro barbeiro.
De bem com a vida
Mesmo em
seus momentos mais reservados, Zé do Gás não tinha baixo astral. “Ele ficava lá
na dele, curtindo os discos antigos”, relata Adriana.
O gosto pelos sambas do João Nogueira ficou patenteado em uma carta, verdadeiro réquiem que Zé do Gás escreveu na madrugada em que seu ídolo morreu (veja reprodução nesta página).
O gosto pelos sambas do João Nogueira ficou patenteado em uma carta, verdadeiro réquiem que Zé do Gás escreveu na madrugada em que seu ídolo morreu (veja reprodução nesta página).
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Dos
colegas de campo mais antigos, Zé do Gás manteve uma amizade praticamente de
vida inteira com o meia-esquerda Dorinho. Quando jovens, atuavam pelo mesmo
time Leão do Morro, e também viajavam muito vendendo bichinhos de pelúcia. Mais
velhos, moraram na mesma cidade de Taboão da Serra.
Em
dezembro de 2005 Dorinho telefonou para Áurea, esposa do amigo Zé do Gás: “Oi
Aurinha, estou ligando pra desejar Feliz Natal, porque no ano que vem não sei
se vou estar aqui”. Quando dona Áurea respondeu que ninguém sabe, Dorinho foi
enfático: “Eu sei que não estarei”. De fato, Theodoro Júdica Junior, o Dorinho,
faleceu em 26 de dezembro de 2006, dois dias antes de completar 66 anos.
Raphael herdou o gosto musical do pai. Foto: reprodução de jornal |
Como bom
descendente de italianos, Zé do Gás era bom de garfo e cheio de jargões. Seus
pratos prediletos eram dobradinha, leitão à pururuca e quibe cru. Suas
conversas eram recheadas de expressões como “na encolha”, “na miúda”, “cheio de
fita”, “cheio de história”, “papo furado”, “quás-quás-quás”, "pororóóó...", e o seu infalível “tá
por fora!!!”.
Exaltação da várzea
Jogadores
de futebol amador são heróis do subúrbio. É praxe dos varzeanos exaltarem
seus antepassados.
Na rodada final da 7ª Copa Verão os times finalistas
entrarão em campo vestindo uma camiseta-tributo com a face de Zé do Gás sobre a
farda.
A copa, que está na sua sétima edição, é organizada pela Liga Esportiva Joga Senhor com apoio da Prefeitura de Taboão da Serra.
Prefeito Fernando Fernandes e Zé do Gás em julho de 2014. Foto: M. Pezão |
A copa, que está na sua sétima edição, é organizada pela Liga Esportiva Joga Senhor com apoio da Prefeitura de Taboão da Serra.
A
finalíssima terá caráter intermunicipal, e vai ser disputada pelo Fortaleza
(Taboão da Serra) e o Santa Emília (Embu das Artes), os dois com as defesas
menos vazadas da copa, com 7 e 8 gols respectivamente. A competição tem até o
momento na artilharia Rivelino (13 gols) e Mauro César (7 gols) ambos do Santa
Emília. O terceiro artilheiro (6 gols) é Junior César, do Fortaleza. O jogo
começa às 9h30 precedido pela disputa do 3º lugar (Grêmio Marabá x AAPP, às
7h30) no campo do Jardim Guaciara, na Estrada das Olarias, 519.
Zé do Gás citado como Gasbrás em notícia da época de ouro do Leão do Morro, na década de 1960 |
Um comentário:
Zé do Gáz, grande amigo e companheiro, fiquei muito triste com a notícia , por estar morando em Israel nunca mais não tive contato com ele, que Deus o tenha sempre ao seu lado, é meus sentimentos a Camila.
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