David da Silva
No dia 03.fev.1995, o ex-prefeito José Vicente Buscarini assinou decreto declarando emergência no território municipal. Exatamente 30 anos depois, hoje, 03.fev.2025, o prefeito Daniel Bogalho também decretou situação de emergência. Os dois documentos começam com as mesmas palavras: “considerando a intensa chuva que atingiu o município...”. Parodiando o Eclesiastes, em Taboão da Serra não há nada de novo debaixo das nuvens.
A
chuva do fim do início da noite deste domingo (2) trouxe 122 mm de água despejada em menos de três horas, segundo um pluviômetro instalado no bairro Jd Salete. O ponto mais atingido é um velho conhecido das crônicas municipais
encharcadas. O quadrilátero entre as ruas Santa Luzia, José Soares de Azevedo,
Getúlio Vargas e Rua do Carmo teve cheia de dois metros de altura. Os primeiros
relatos desse problema nessas ruas datam de 1911.
Após o aguaceiro de ontem, a Defesa Civil de Taboão contabilizou 560 pessoas desalojadas, 40 pessoas desabrigadas, 10 casas interditadas, e 200 imóveis e 39 automóveis danificados.
Além
das equipes da prefeitura, a seguradora Porto Seguro enviou funcionários com
jet ski para auxiliar pessoas ilhadas pelo alagamento. Desde o verão de 2021 a
empresa dispõe de grupos de resgate com habilitação de motonauta e treinados em
salvamento.
Taboão da Serra é um dos 1.038 municípios brasileiros com seus índices de chuva monitorados pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). As estações pluviométricas do Cemaden em Taboão estão nos bairros Pq Laguna, Jd Vila Sônia, Jd São Judas, Pq Assunção e outros.
Para
poder instaurar situação de emergência no município, o prefeito precisa ter seu
decreto homologado pelo Governo do Estado e reconhecido pelo Governo Federal.
Entorno trágico
Visitada
todos os anos pelas cheias causadas pelo encontro dos córregos Poá e Pirajuçara,
a região do entorno do Largo do Taboão teve seu dia mais trágico em
19.mar.2015. Durante uma tromba d’água, ao tentar sair do carro na Rua José
Soares de Azevedo, o aposentado José Fonseca da Silva, 69 anos, foi arrastado
para dentro do córrego. Seu corpo só foi encontrado três dias depois no Rio
Pinheiros, a quase 10 km de distância.
Calendário
Os
dias de enchentes já podem entrar para o calendário oficial de Taboão da Serra.
O
blog bar&lanches taboão consultou
decretos de emergência ou de calamidade pública assinados entre 1994 e 2025.
Apesar
de danosos, os alagamentos são disciplinados. Ocorrem com mais frequência em
fevereiro. Dos 10 decretos analisados, sete foram assinados nesse mês.
O
decreto de emergência mais antigo da lista pesquisada aconteceu em 09.fev.1994.
Abrangia o Largo do Taboão e adjacências, e os bairros Jd Mafalda, Cidade
Intercap, Jd Três Marias, Jd Clementino, Jd Saporito, Jd Freitas Junior, Jd São
Judas, Jd São João, Vila Indiana e Pq Pinheiros, fustigados pelo temporal do
dia anterior.
No
ano seguinte, pontualmente no mês de fevereiro, as chuvas devastaram a cidade
nos dias 2, 5 e 6. O prefeito da época decretou primeiramente o estado de
emergência; três dias depois, baixou a situação de calamidade – três pessoas
haviam morrido vítimas de desmoronamento.
Dando
um salto em distância de 25 anos de comprimento, em fevereiro de 2020
encontramos Taboão como o segundo município paulista em número de desabrigados.
A chuvarada da madrugada do dia 10 daquele mês mandou 499 pessoas pra fora de
casa. Nem a polícia escapou – quatro viaturas com perda total na Base da PM na
Rua José Soares de Azevedo.
Mais antiga que a
vacina
Ainda
não tinham inventado a vacina contra paralisia infantil, e os moradores do “quadrilátero
das cheias”, no Largo do Taboão, já eram fustigados pelas inundações.
Waldemar
Gonçalves, primeiro repórter de Taboão, ouviu de moradores ancestrais que, em
1911, Benedito Nunes Vieira, o Nêgo Nunes,
cobrava 200 réis para atravessar pessoas no Largo do Taboão alagado numa balsa
feita com tonéis vazios (Taboão da Serra
Sua História Sua Gente, página 120).
De
tão habituais no município, os alagamentos entraram até para o folclore do submundo
do crime. No início de 1970, os presos da cadeia pública de Taboão tiveram de
sair a nado das suas celas por causa de uma violenta tromba d'água. O jornal da época noticiou que “uma intensa chuva caiu
na cidade na madrugada de 19.jan.1970. O córrego Pirajussara transbordou e
elevou o nível da água em algumas áreas a mais de um metro de altura. Duzentas
casas foram inundadas, e as cabeceiras de uma ponte ficaram destruídas”.
Naquele tempo, a delegacia ficava perto do Morro do Cristo, na mesma Rua Santa Luzia que ontem ficou submersa.
DECRETOS DE EMERGÊNCIA E CALAMIDADE
Nº/data |
MOTIVO |
Prefeito |
12 - 03/02/2025 Emergência |
chuva na tarde 02/02/2025 |
Daniel |
200 - 12/10/2024 Emergência |
chuva e ventos 11/10/2024 |
Aprígio |
273 - 30/12/2020 Emergência |
tempestade 29/12/2020 |
Fernando Fernandes |
41 - 10/02/2020 Emergência |
chuva madrugada 10/02/2020 |
Fernando Fernandes |
36 - 19/03/2015 Emergência |
temporal na tarde 19/03/2015 |
Fernando Fernandes |
14 - 23/01/2014 Emergência |
chuva na noite 22/01/2014 |
Fernando Fernandes |
11 - 26/02/1999 Emergência |
tempestades |
Fernando Fernandes |
16 - 06/02/1995 Calamidade |
Três mortes 06/02/1995 |
Buscarini |
14 - 03/02/1995 Emergência |
temporal em 02/02/1995 |
Buscarini |
11 - 09/02/1994 Emergência |
temporal em 08/02/1994 |
Buscarini |
2 comentários:
Como as enchentes nesse local não é novidade NÃO entendo porque até hoje, décadas após o seu início, as enchentes persistem!!!
VEJA SUA RESPOSTA EM: https://www.brasildefatomg.com.br/2021/01/08/bh-e-meio-ambiente-os-rios-enterrados-vivos
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