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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Um parreiral em pleno Pirajuçara

Foto: David da Silva - 04.nov.2010
Vinte anos atrás, o comerciante Carioca (à direita) plantou um pé de uva no fundo de seu terreno, defronte à praça Luis Gonzaga, no Pirajuçara.
A pequenina muda espichou o tronco até a altura do segundo piso da casa. E exigiu que laje e parede lhe deixassem aberta a passagem.
Hoje seus galhos estão esparramados por todo o quintal. No verão, o sol pode tinir lá fora, mas no lar do Carioca as churrascadas são sempre à sombra da parreira.
Quando vem chegando o Natal, a parreira presenteia a família com uma quantidade emocionante de cachos.
A videira é originária da Ásia. Há registros de consumo e cultivo de uvas pela Humanidade há cerca de 6.000 mil anos antes de Cristo.
A uva chegou ao Brasil nas caravelas dos portugueses. Foi cultivada pela primeira vez em solo brasileiro na então Capitania de São Vicente, em 1535.
Além do sabor sublime, a uva tem elevados poderes curativos - confira aqui
Cachos de uvas amadurecendo no coração do Vale do Pirajuçara. Foto: David da Silva - 04.nov.2010
Tronco da parreira passa entre 
a parede e laje


Churrascadas são saboreadas à sombra das folhas da parreira




Grande produção de frutos alegra a família e os amigos da casa
Um novo pézinho de uvas está brotando no quintal do Carioca.
Foto: David da Silva - 04.nov.2010

sábado, 26 de junho de 2010

Peão de obra se apaixona por dono de boteco

Zé do Céu é um pacato comerciante do Pirajuçara, no subúrbio da suburbana Taboão da Serra. Seu boteco fica na esquina da Praça Luiz Gonzaga com a estrada Kizaemon Takeuti. Dentro de seu próprio bar, Zé do Céu foi vítima de grave assédio sexual. Traumatizado pelo ocorrido, ele diz não se lembrar (ou quer esconder) a data exata do fato.
O assunto veio à tona na noite de 3ª-feira 1º de junho, no Bar do Carioca.
Enquanto cascateavam tomando pinga de bagaço de uva, Carioca tirou um álbum de baixo do balcão: “Vou te mostrar fotos de umas piranhas do Teles Pires.”
Pensando que as tais piranhas eram putas de alguma cidade chamada Teles Pires, Zé do Céu se alvoroçou. Quando viu que eram peixes, se emputeceu: “Tô pensando que é coisa que presta...”
Um gaiato lá da porta entregou: “Hei, Zé do Céu! Você tá é viciado em foto pornô na tela de celular...”
Pressionado pelos colegas, Zé do Céu abriu o jogo. Com os olhos vermelhos, soluçou: “Pôxa, gente! Não é fácil guardar um segredo desses por tanto tempo”.
Segue a confissão: “Tava de boa lá no bar, curtindo reggae, tomando vinho, quando me entra um tipo afrescalhado e disse: - Quero uma meia de seda.”
Com a linda educação que Deus lhe deu, Zé do Céu soltou o coice: “Lugar de comprar meia de seda é na lojinha aí do lado, ó.”
O fresco não se abalou: “Nããão, bofe. Meia de seda é o nome do drinque que eu quero beber. Faz pra mim, Alemão?”. “Alemão é o caráio. Meu nome é Zé do Céu.” “Ui, Zé do Céu. Me leva pras nuvens?
Depois da terceira dose de meia de seda, Zé do Céu e o freguês engataram um papo firmeza: “Eu sou peão, Zé. Peão de obra. Na construtora meu nome é Hermenegildo. Aqui fora sou Gilda.
Papo vai, papo vem, o peão de obra gay atraiu Zé do Céu pra fumar lá fora.
Carioca se espantou: “Então isto é recente? Essa lei do cigarro em bar é coisa de agora.” “Não, Caríca. Faz um tempão, nem lembro quando... É que a dona Maria nunca deixou eu fumar dentro do bote.”
Voltando ao caso. Enquanto fumavam, o boiola prometeu apresentar ao Zé do Céu umas mulheres lindas taradas por sexo. Para mostar as fotos no seu celular, levou o comerciante para um beco perto do boteco.
Zé do Céu conta empolgado: “Ôrra, meu! Tinha cada mulher cavala! Tudo coxuda... peitão... rabão... Tive uma ereção violenta. Estufou o zíper da bermuda”.
Carioca quis saber: “Cê tava de bermuda?” “De bermuda e camiseta regata bem fininha”, disse Zé do Céu. “Tava um calorão”.
- E o outro cara vestia o que? – pesquisou Carioca.
- Tava de roupa comum de peão – relatou Zé do Céu – Sapato sujo de cal, calça e camisa respingada de concreto. Ôôô, tio! Ninguém diria que o maldito fosse queima-rosca.
- E daí? – perguntaram todos, pois a esta altura o balcão estava lotado de curiosos.
- Daí que enquanto eu tava ligadão nas fotos das minas, o bicha passou a mão no meu pau! Dei-lhe uma puta de uma cotovelada no meio dos peitos...
- Peraí! – gritou Carioca – Peraí! Se você acertou o peito dele com seu cotovelo, então ele estava nas suas costas?
Meio sem graça Zé do Céu consertou: “Quando o escroto grudou minha benga, virei de lado e desci-lhe o cotovelaço na caixa de ossos. Ele saiu andando todo desmilinguido. No dia seguinte, lá estava o nojento de novo no meu bar”.
- Então era tipo mulher de malandro? Apanhou, gamou?
Zé do Céu se ofende: “Se liga, meu! Sô casado e muito bem casado. Falei pro invertido sumir da praça senão ia entregar ele pros urubus”.
Um barbudinho no outra ponta do balcão atiça: “Você disse que isto foi há quanto tempo mesmo?”
Zé do Céu engole a isca: “Foi há uns oito anos atrás”.
O boteco inteiro explode numa sonora gargalhada. Carioca não perdoa: “Ôôô, Zé do Céu. Oito anos atrás não tinha no Brasil celular com arquivo de foto!”.
Atordoado pela contradição, Zé do Céu dá no pé: “Vou pro bar. Dona Maria deve tá precisando de mim”.
Neste instante encosta no balcão o Edgar, dono da barbearia ao lado, e diz:
- Meu vereador predileto disse que essa praça vai virar reduto de bicha e sapatão. Vai ter parada gay, concurso de miss travéco e o diabo a quatro.
Daí caiu a ficha do Carioca:
- Ah... Por isso o Zé do Céu quer montar outro boteco longe daqui!!!
Zé do Céu confirma o antigo ditado popular: cachorro picado por cobra, tem medo de linguiça.




A foto ao lado é uma pequena recordação que o "delicado" freguês enfou debaixo da porta de aço do boteco de Zé do Céu

sábado, 16 de maio de 2009

Deficiente mata frango e gato a dentadas no Pirajuçara

Se este texto fosse uma reportagem policial, seria um caso de frangocídio seguido de gaticídio. Os fatos narrados são rigorosamente verdadeiros, e as pessoas e bichos aqui citados são reais. Se a personagem desta história é culpada ou inocente, voce decide.
Fotos: David da Silva

Quando o gatinho Mingau (à direita) apareceu agonizante, sangrando no quintal da sua casa na manhã da 2ª-feira 11 de maio, a primeira suspeita caiu sobre a cachorra Shakira. Ela já havia matado o frango Zico no final de janeiro de 2009. Os bichos são dos donos do
Bar do Carioca, no Pirajuçara, Taboão da Serra.
O gato ficou internado o dia todo, tomando soro. Por ter perdido muito sangue, sua temperatura baixou demais, e ele passou 12 horas enrolado em cobertor elétrico. À noite teve alta. Sua vontade de viver era tanta que jantou dois pedaços de carne. Mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo a médica veterinária, os cortes em Mingau mostraram que ele sofreu mordidas profundas. Principalmente na coxa, por onde seu sangue se esvaiu.

O gato foi adotado há sete meses por Dalva, esposa do Carioca. O bichano estava em uma casa de ração para ser doado quando ganhou o novo lar.
Todas as noites por volta das 19h ou 20h, Mingau entrava mansamente no Bar do Carioca, e subia na pia. Miava para seu dono abrir a torneira.
Era uma atração para os fregueses vê-lo beber água. Depois de matar a sede, antes de sair para sua ronda noturna ele brincava com as crianças no salão do bar (à esquerda Mingau e Yago, netinho de Carioca).

O quinto mandamento
A cachorra Shakira já deu muitas despesas. Comprada por Dalva há 10 anos por R$ 250,00, ela ficou muito gorda. Esfolava a barriga na escada que liga o bar à residência. De tanto subir e descer se arrastando nos degraus teve hérnia de disco. Seus donos gastaram cerca de mil reais no tratamento da sua coluna, mas ela não voltou a andar.
O metalúrgico Emídio, dono de uma serralheria no bairro, pesquisou na internet como fabricar uma cadeira de rodas para a cadela. Depois de dois anos se arrastando sobre a cadeirinha, Shakira voltou a andar, mancando.
Durante o tempo em que ficou entrevada, Shakira contou com a solidariedade de Suzi, a outra cachorrinha da casa. Tudo o que Suzi comia, levava para dividir com Shakira. Anos antes, houve outra prova da fidelidade canina: Shakira teve filhotes, mas seu leite era pouco. Numa transformação biológica fantástica, a virgem e castrada Suzi teve lactação, e virou ama-de-leite dos filhos da amiga.
Todas estas provas de amor não ensinaram Shakira a obedecer ao quinto mandamento da Bíblia (“não matarás”). Um frango adotado pela família teve morte cruel e por motivo fútil nas garras de Shakira.

Escapou da panela
Um sujeito chegou certo dia no Bar do Carioca com um pintinho na mão: “Se ninguém quiser o bichinho vou ter de matar ele”. Carioca salvou o pintinho da morte precoce. Colocou-o em uma gaiola a salvo das cachorras, e pensava come-lo com quiabo quando engordasse. (Na foto à esquerda, Zico uma semana antes de ser assassinado)
O frango foi batizado de Zico em homenagem ao famoso jogador Zico do Flamengo, também conhecido por "Galinho de Quintino". 

Em poucas semanas tornou-se um belo frangão. Dalva sugeriu ao marido deixar Zico vivo até virar galo. Ele estava livre da panela...
Dalva gostava de carregar Zico no colo, e ele passou a viver solto no quintal. O ciúme que ele provocou em Shakira foi sua sentença de morte. Certa tarde, após várias horas no colo da dona, Zico teve seu pescoço destroçado pela mandíbula enciumada de Shakira.

Quem matou Mingau?
Ontem à noite, Dalva me perguntou: “O Carioca te contou que a assassina fez outra vítima?”. Na noite anterior o comerciante me disse que a cachorra não tinha marcas do sangue do gato. Mas agora admitia: “Ela e a Suzi se caguetaram”. Carioca estava no intervalo de uma disputa de bilhar, e esperei o fim do jogo para ouvir a história. Como perdeu a partida, Carioca voltou embirrento para o balcão: “Vamos parar com este assunto, senão a situação da Shakira vai complicar ainda mais. Ela é velhinha e semi-aleijada. Não conseguiria matar o gato. Não creio em duplo assassinato”.
Tudo em boteco vira aposta. E o balcão pode virar júri popular. Uma parte da freguesia concorda com Dalva que Shakira exterminou Mingau, assim como fez com Zico. Outra parte, arrisca na versão de Carioca.
Shakira em árabe significa “graciosa, cheia de encantos”. Mas no caso desta cachorra, ela é mais “cheia de raiva” dos bichinhos adotados por seus donos.
A Suzi que se cuide...

sábado, 6 de dezembro de 2008

Um troféu para comer com vinho tinto

O sujeito entra no Bar do Carioca, na região do Pirajuçara, em Taboão da Serra, e entre uma birita e outra, fica encafifado com uma cabeçorra grudada na parede, de boca poderosa e duas presas pontiagudas na mandíbula inferior, feito caninos invertidos.
Botequeiro é despachado, e não demora abordar o dono do bar sobre o curioso objeto. Se o Carioca não estiver nos seus melhores dias, a resposta é uma flechada na conversa-mole:
É uma cachorra.
E mais
não diz nem se for perguntado.
Mas se o homem estiver inspirado, didaticamente apontará pra sua mais nova conquista nos rios de Mato Grosso:

- Aquilo ali é a cabeça embalsamada de um dourado-cachorra que pesquei no rio Teles Pires no final de julho.
A partir dalí e até o cliente tomar seu último trago, a conversa vai se espraiar em caso
s e fotos de pescarias.
Várias vezes ao ano, sem periodicidade alguma e nenhum aviso prévio, Carioca baixa as portas de aço do seu boteco, e se manda pra beira d’água. Tanto faz ir pra sua baixada fluminense ou pro Mato Grosso: “O importante é pexcárrr”, diz no sotaque de ilustre filho de
Nova Iguaçu (RJ).
O peixe-cachorra que virou troféu foi fisgado em 24 de julho último. Carioca já estava em
Sinop (MT) desde 29 de junho, Dia de São Pedro, padroeiro dos pescadores. Mas seu bornal de pescador ainda não tinha nenhuma história boa pra contar. Em 10 de julho ele, sua mulher Dalva e os amigos Luiz, Evanildo, Mário e Vanderlei, já tinham subido o rio Teles Pires por três dias. Voltaram para o acampamento. Em 21 de julho retomaram as tralhas, e lá se foram de novo rio acima. O barco que os levava havia conduzido campeões de um recente torneio de pesca. Três dias depois, com o sol das 10h da manhã desenhando faíscas douradas nas águas, na altura da Fazenda Pedro Mendes, Carioca viu na ponta da linha que era hora de voltar para Taboão da Serra: a cachorra de 12,800kg dava seus últimos tremeliques no anzol. Às 18h34 de 24.jul.2008 Carioca adentrou com o fantástico peixe na casa de sua cunhada Fátima, em Sinop, a 2.135km de São Paulo. Mas o peixão não cumpriu logo sua sina de comida de gente. Faltava encarar 36 horas de ônibus na viagem até a cozinha do Carioca. Salgado e secado ao sol, esperou a hora de ser levado ao fogo. Dali foi escoltado pelo vinho tinto até a mesa, e consumido tendo como testemunhas o arroz branco e uma formidável farofa.
Na natureza, a cachorra chega a um metro de comprimento, e pode engolir peixes com a metade de seu tamanho. Quand
o escolhe sua vítima como rango, dá um bote furioso pra cima da presa: nem dá tempo do peixinho gritar “glub!”.
Ao ser fisgado,
sai num arranco irado, e dá vários pinotes cheios de agilidade e vigor para fora da água. Não é covarde: não procura vãos onde se embiocar e enroscar a linha. Mas tem fôlego curto; logo entrega os pontos. O homem branco é quem diz que este peixe tem cara de cachorra. Para os índios, ele é parente do Batman – o chamam pirandirá (pira = peixe + andirá = morcego). O rio Teles Pires nasce em duas pequenas nascentes a 800 metros de altitude na Serra Azul, no município de Primavera do Leste (MT). Até desaguar no rio Tapajós, no Estado do Pará, percorre 725 quilômetros.
Este portento fluvial (que leva o sobrenome do capitão Antônio Lourenço Teles Pires, pioneiro na exploração daquelas águas, e morto por afogamento em 1882 neste rio) está condenado a morrer. Se não cessar imediatamente sua depredação, o Teles Pires não durará mais 20 anos. Sua água azul-esverdeada está escurecendo contaminada por agrotóxicos. Seu leito está assoreado. Sua bacia de 109 mil quilômetros quadrados - a 3ª maior do MT – já está 46% desmatada...
Bar do Carioca
Praça Luiz Gonzaga, Pirajuçara - Taboão da Serra

Altura do nº. 2.375 da Estrada Kizaemon Takeuti