Foto: Divulgação |
“Ah...
não foi quase ninguém. Não tinha mais que 30 pessoas na plateia”.
Assim
foi resumido para mim o show que o cantor e compositor Belchior fez há 18 anos,
no espaço Cemur, em Taboão da Serra.
Quem me conta
a história é Odair Meneguetti, ex-diretor de Cultura da prefeitura local. “A
produção do Belchior nos procurou na época, e cedemos o local para ele. Mas foi
decepcionante”, diz.
A
apresentação se deu numa noite de 4ª-feira no ano 1995.
Mesmo
tendo sofrido um fiasco em sua passagem pela nossa cidade, Belchior me recebeu
com generosidade quando o entrevistei no ano 2000, para o jornal dos
funcionários públicos: “Você é de Taboão da Serra? Que bom! Eu cantei lá. E se
você quiser um dia posso voltar a cantar lá”, me disse no início da reportagem produzida
por Aloisio Nogueira Alves.
Belchior e David da Silva na casa do artista no bairro paulistano Campo Belo. Foto: Aloisio Alves |
As
razões para o mau êxito de público de Belchior em Taboão da Serra permanecem
nebulosas. Alguns o atribuem à falta de divulgação. O diretor aposentado Odair Meneguetti
arrisca um palpite: “É excelente compositor. Mas como cantor, ele não atrai.
Nem mesmo se fosse hoje”.
Engana-se.
As músicas
de Belchior no Youtube chegam a 500 mil acessos. Por dia.
Em 1995
ao pisar no palco em Taboão da Serra, Belchior já tinha 25 anos de carreira
como um dos maiores ídolos da MPB. Com sucessos gravados na própria voz e nas
de Elis Regina, Jair Rodrigues, e Roberto Carlos. Seu primeiro sucesso se deu
em 1971, com Na Hora do Almoço. A
consagração nacional veio em 1976, com o estouro simultâneo de Apenas um rapaz latino americano, e de
canções que se tornaram hinos da juventude como Velha Roupa Colorida e Como
Nossos Pais, ambas gravadas por Elis Regina.
Belchior e Edna em Porto Alegre. Foto: Bruno Alencastro |
A colossal Comédia Humana
Em 2007
Belchior parou de fazer shows. A grande imprensa o deu como desaparecido dois
anos depois. Turistas brasileiros encontraram o artista no Uruguai, recluso com
uma mulher que conheceu em 2005. O casal deixava um rastro de diárias não pagas
nos hotéis e flats por onde passava. Dois carros de luxo de Belchior quedaram
abandonados em um aeroporto e um estacionamento.
Jornais
e TVs do mundo todo (inclusive o sisudo The
Guardian britânico) especularam que Belchior havia se retirado de cena em
2007 para se dedicar à sua tradução do livro Divina Comédia, do poeta Dante Alighieri.
A
notícia estava atrasada quase uma década. Já naquela entrevista que fiz com ele
no ano 2000, Belchior contou que estava traduzindo a obra-prima de Dante. E que
seria toda ilustrada por ele, que também é pintor, e inteiramente escrita à mão
(o cantor-compositor também é calígrafo).
A volta por cima?
Belchior e o advogado Jorge Cabral, na casa de
quem ficou hospedado por quatro meses. Depois o cantor e Edna foram morar num albergue. Foto: Arquivo pessoal. |
Em
janeiro do ano passado Belchior, 67 anos, procurou a Justiça do Rio Grande do
Sul (onde leva vida semi-clandestina em Porto Alegre). Estava acompanhado da
atual companheira Edna Assunção Araújo, 46 anos. A mulher alegou que o cantor vive
ameaçado de morte. A Justiça gaúcha não revelou o teor da demanda de Belchior.
O casal
chegou a se reunir com a direção da TV Record em Porto Alegre, dizendo ter um
dossiê contra a TV Globo. Mas não apresentou nenhum documento, nem marcou novo encontro.
A mulher disse a outra jornalista gaúcha que Belchior está preparando uma
grande retomada de sua carreira. Inclusive com material inédito para três novos
álbuns.
A dívida
monumental de Belchior com hotéis, uma ação trabalhista e pensão alimentícia de
três filhas beira R$ 1,5 milhão em valor não corrigido.
“Dinheiro
não é problema. Com cinco ou seis shows ele paga isto com folga”, afirma
Jackson Martins, ex-empresário do artista. “Se ele voltar, pago adiantado todas
as dívidas dele”, garante.
Problema
com público Belchior deve ter tido somente em Taboão da Serra. Mas dificilmente a história se repetiria. Perguntei à agitadora cultural Suzi Soares, do
Sarau do Binho, se ela iria a um eventual futuro show de Belchior aqui no
município. “Que história é essa? Tá querendo me deixar doida? Existe esta
possibilidade?”, perguntou num afã contínuo a esposa do poeta Robinson Padial,
o Binho. “Quero saber direito dessa história de Belchior em Taboão. Me atiçou
as lombrigas. Eu amaria ver um show do Belchior na companhia do Binho e da
Naiana, nossa filha. Porque nosso amor foi embalado por suas canções, e agora é
nossa filha quem curte suas dores de cotovelo ao som das mesmas músicas”, conta
a primeira-dama do Sarau do Binho.
Caso
Belchior retorne aos palcos, e volte um dia a Taboão da Serra, ao menos já sabemos
o que gosta no café da manhã, com base na ação movida contra ele pelo primeiro hotel
em que iniciou sua jornada rumo ao ostracismo - omelete japonês com shoyo e
açúcar, picadinho de carne acebolada, tofu com quiabo cozido e linguiça com
cebola, além de sucos e pães.
É o que
vou comer agora. Bom dia.
5 comentários:
Aê David!!
Estamos na campanha: Belchior de volta a Taboão!
Adorei!!
Lembro-me desse Show. Estava cursando o ensino médio e nesse dia tinha uma prova e não pude ir... me arrependo até hoje. Se ele voltar eu vou...
Abs,
Clayton Novais
Picadinho de carne? Linguiça? O Belchior hoje é vegetariano!
Meu chapa anônimo. Belchior não é vegetariano. E qdo perguntei a ele que bicho ele mais gosta de comer, respondeu: "Bicho de saia".
Excelente!!! Vc tem o dom!!!
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