sexta-feira, 21 de março de 2014

O show do cantor Belchior em Taboão da Serra

Foto: Divulgação
“Ah... não foi quase ninguém. Não tinha mais que 30 pessoas na plateia”.
Assim foi resumido para mim o show que o cantor e compositor Belchior fez há 18 anos, no espaço Cemur, em Taboão da Serra.
Quem me conta a história é Odair Meneguetti, ex-diretor de Cultura da prefeitura local. “A produção do Belchior nos procurou na época, e cedemos o local para ele. Mas foi decepcionante”, diz.
A apresentação se deu numa noite de 4ª-feira no ano 1995.
Mesmo tendo sofrido um fiasco em sua passagem pela nossa cidade, Belchior me recebeu com generosidade quando o entrevistei no ano 2000, para o jornal dos funcionários públicos: “Você é de Taboão da Serra? Que bom! Eu cantei lá. E se você quiser um dia posso voltar a cantar lá”, me disse no início da reportagem produzida por Aloisio Nogueira Alves.
Belchior e David da Silva na casa do artista no bairro paulistano Campo Belo. Foto: Aloisio Alves
As razões para o mau êxito de público de Belchior em Taboão da Serra permanecem nebulosas. Alguns o atribuem à falta de divulgação. O diretor aposentado Odair Meneguetti arrisca um palpite: “É excelente compositor. Mas como cantor, ele não atrai. Nem mesmo se fosse hoje”.
Engana-se.
As músicas de Belchior no Youtube chegam a 500 mil acessos. Por dia.
Em 1995 ao pisar no palco em Taboão da Serra, Belchior já tinha 25 anos de carreira como um dos maiores ídolos da MPB. Com sucessos gravados na própria voz e nas de Elis Regina, Jair Rodrigues, e Roberto Carlos. Seu primeiro sucesso se deu em 1971, com Na Hora do Almoço. A consagração nacional veio em 1976, com o estouro simultâneo de Apenas um rapaz latino americano, e de canções que se tornaram hinos da juventude como Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais, ambas gravadas por Elis Regina.

Belchior e Edna em Porto Alegre. Foto: Bruno Alencastro
A colossal Comédia Humana
Em 2007 Belchior parou de fazer shows. A grande imprensa o deu como desaparecido dois anos depois. Turistas brasileiros encontraram o artista no Uruguai, recluso com uma mulher que conheceu em 2005. O casal deixava um rastro de diárias não pagas nos hotéis e flats por onde passava. Dois carros de luxo de Belchior quedaram abandonados em um aeroporto e um estacionamento.
Jornais e TVs do mundo todo (inclusive o sisudo The Guardian britânico) especularam que Belchior havia se retirado de cena em 2007 para se dedicar à sua tradução do livro Divina Comédia, do poeta Dante Alighieri.
A notícia estava atrasada quase uma década. Já naquela entrevista que fiz com ele no ano 2000, Belchior contou que estava traduzindo a obra-prima de Dante. E que seria toda ilustrada por ele, que também é pintor, e inteiramente escrita à mão (o cantor-compositor também é calígrafo).

A volta por cima?
Belchior e o advogado Jorge Cabral, na casa de quem
ficou hospedado por quatro meses. Depois o cantor e
Edna foram morar num albergue. Foto: Arquivo pessoal.
Em janeiro do ano passado Belchior, 67 anos, procurou a Justiça do Rio Grande do Sul (onde leva vida semi-clandestina em Porto Alegre). Estava acompanhado da atual companheira Edna Assunção Araújo, 46 anos. A mulher alegou que o cantor vive ameaçado de morte. A Justiça gaúcha não revelou o teor da demanda de Belchior.
O casal chegou a se reunir com a direção da TV Record em Porto Alegre, dizendo ter um dossiê contra a TV Globo. Mas não apresentou nenhum documento, nem marcou novo encontro. A mulher disse a outra jornalista gaúcha que Belchior está preparando uma grande retomada de sua carreira. Inclusive com material inédito para três novos álbuns.
A dívida monumental de Belchior com hotéis, uma ação trabalhista e pensão alimentícia de três filhas beira R$ 1,5 milhão em valor não corrigido.
“Dinheiro não é problema. Com cinco ou seis shows ele paga isto com folga”, afirma Jackson Martins, ex-empresário do artista. “Se ele voltar, pago adiantado todas as dívidas dele”, garante.
Problema com público Belchior deve ter tido somente em Taboão da Serra. Mas dificilmente a história se repetiria. Perguntei à agitadora cultural Suzi Soares, do Sarau do Binho, se ela iria a um eventual futuro show de Belchior aqui no município. “Que história é essa? Tá querendo me deixar doida? Existe esta possibilidade?”, perguntou num afã contínuo a esposa do poeta Robinson Padial, o Binho. “Quero saber direito dessa história de Belchior em Taboão. Me atiçou as lombrigas. Eu amaria ver um show do Belchior na companhia do Binho e da Naiana, nossa filha. Porque nosso amor foi embalado por suas canções, e agora é nossa filha quem curte suas dores de cotovelo ao som das mesmas músicas”, conta a primeira-dama do Sarau do Binho.
Caso Belchior retorne aos palcos, e volte um dia a Taboão da Serra, ao menos já sabemos o que gosta no café da manhã, com base na ação movida contra ele pelo primeiro hotel em que iniciou sua jornada rumo ao ostracismo - omelete japonês com shoyo e açúcar, picadinho de carne acebolada, tofu com quiabo cozido e linguiça com cebola, além de sucos e pães.
É o que vou comer agora. Bom dia.

5 comentários:

Unknown disse...

Aê David!!
Estamos na campanha: Belchior de volta a Taboão!
Adorei!!

Anônimo disse...

Lembro-me desse Show. Estava cursando o ensino médio e nesse dia tinha uma prova e não pude ir... me arrependo até hoje. Se ele voltar eu vou...

Abs,

Clayton Novais

Anônimo disse...

Picadinho de carne? Linguiça? O Belchior hoje é vegetariano!

David da Silva disse...

Meu chapa anônimo. Belchior não é vegetariano. E qdo perguntei a ele que bicho ele mais gosta de comer, respondeu: "Bicho de saia".

Paula disse...

Excelente!!! Vc tem o dom!!!