segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Denúncia da Folha de São Paulo

Evilásio gastou R$ 70 mil para ganhar vaga na Copa São Paulo

“Para um time entrar na Copa São Paulo de juniores, o critério financeiro valeu mais que o técnico”. Este é a constatação do jornalista Paulo Cobos, na seção de Esportes da Folha de São Paulo, no sábado dia 5 de dezembro. A copa teve um evento de abertura na noite do mesmo sábado, no teatro Cemur. “Um cheque na mão vale mais que um troféu de campeão estadual para entrar nesta competição”, revela a reportagem.
Na Copa São Paulo de 2007, o Clube Atlético Taboão da Serra (Cats) emperrou na 16ª colocação.
O prefeito Evilásio Farias liberou o dinheiro para ganhar a vaga em 2008. A Prefeitura ainda bancará todos os demais gastos com alimentação de atletas, hospedagens, transportes, segurança e assistência médica de todos os quatro clubes do grupo E, do qual o Cats faz parte na primeira fase do campeonato.

Leia mais em:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u360350.shtml


sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

É hora de salvar o MASP

Um manifesto em favor da estatização do Museu de Arte de São Paulo está recebendo centenas de adesões a cada hora.
O movimento é uma reação da sociedade contra o descuido com o patrimônio do museu, alvo de constantes ataques do crime organizado, como a ação que resultou no recente roubo de um Portinari e um Picasso.

Não deixe de fazer sua adesão: www.sosmasp.com.br

TV Cultura revisita a arte de Baden

Fala, Manu!

Fotos: Rogério Albuquerque/Agência Fotogarrafa

Para Jairo, do Periafricania

Quem andou por São Paulo nos dias finais de 2007 foi o cantor, compositor e guitarrista franco-espanhol Manu Chao.

Conheci este artista dentro do táxi do Jairo, subindo a ladeira do Jardim Roberto. Explico: o rapper Jairo (do Periafricania) me dava uma carona até o Pirajuçara, e no caminho pôs para tocar o álbum Clandestino, penúltimo CD do Manu Chao. Até então, eu nem sabia que ele cantou pela primeira vez no Brasil na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, durante a Eco’92.

Manu Chao esteve no mês de dezembro no Rio e em Sampa para divulgar seu novo trabalho La Radiolina. E não deixou de aprontar das suas.
No Rio, os caras do Paralamas do Sucesso deram a Manu um ingresso VIP para ele assistir The Police. Todavia, Manu largou os gringos de lado, e foi tomar umas canas e matar saudades da Praça Mauá.
Em São Paulo, a imprensa burguesa teve de entrevistar Manu Chao em um botequim antigo da nossa Capital – daqueles com doceiro e baleiros de vidro, um rádio bem velho na prateleira, e pinga em copo de dose com fundo grosso. À vontade no butiquim estilo “zé-sujinho”, as idéias de Manu Chao fluíram feito um turbilhão de águas cristalinas.

“Difícil foi acompanhá-lo nas biritas”, revela o repórter Jotabê Medeiros, do Estadão.

Os brutos também amam, meu chapa!

Este rapaz de 70 anos na foto acima, no dorso de sua carreta Scania é meu pai. 
Geraldo Cunha da Silva sim senhor, a seu dispor.
Nesta virada de ano ele recebeu em sua boléia a visita do meu filhão Yuri. A partir do próximo dia 10, quem vai enfeitar sua cabine serão minhas filhas Maíra e Maysa. Vão lombar as estradas entre São Paulo até Recife, sobre os 18 pneus domados pelo meu valente pai.
Eu me chamo David (grafado assim à moda dos yankees) porque meu pai era (e é. Eu também sou) fanático por filmes de faroeste.
Quando chegou da Bahia para cá, meu pai empregou-se como ajudante de mecânico – daí sua paixão por motores. Minha avó morava em uma casinha minúscula, no Jd Monte Kemel. Meu pai achava mais confortável dormir nos carros da oficina. “Minha primeira ‘casa’ foi um automóvel Buyck, onde eu varava as noites ouvindo um programa de tangos e boleros chamado Salão Grená”, lembra. 

Nas suas folgas, ele se refugiava nos cinemas. “Na época tinha sessões múltiplas, vários filmes intercalados. Eu entrava de manhã e só saía do cinema à noite”, conta. 
Para aguentar o repuxo das projeções ininterruptas, levava vários sanduíches. Quando John Wayne punha seu Colt 45 na cartucheira, meu pai sacava mais um lanche do bolso.

No tempo dos pioneiros
De forma indireta, meu pai faz parte da emancipação de Taboão da Serra. 
Seu primeiro emprego aqui em nossa cidade, foi na oficina mecânica de José Ruiz Moreno, um dos emancipadores que assinaram a carta pedindo a criação do município.
Tempos depois, já habilitado, foi motorista de caminhão do honorável Kizaemon Takeuti.
Neste Natal meu pai me presenteou com um DVD do afamado western Os Brutos Também Amam. O making-off do filme é uma atração à parte. Verdadeira aula de cinematografia.
É um filme baseado no romance de Jack Schaefer, com roteiro de A. B. Guthrie, e diálogos adicionais de Jack Sher. A direção foi do George Stevens.
Você entendeu porque eu coloquei primeiro os nomes dos roteiristas, né? A atual greve da categoria nos EUA prova quem tem real importância na indústria cinematográfica.
Gosto particularmente deste faroeste porque o personagem principal foge do modelo viciado do herói destemido. Shane (vivido por Alan Ladd) é um cowboy humanizado, com todos os receios de um homem comum.

O filme revela o Velho Oeste visto pelos olhos do ingênuo menino Joey (na foto, Alan Ladd e o garoto-ator Brandon de Wilde).
Os diálogos deste filme são excelentes. Minha fala favorita é quando Shane mostra a Marian (interpretada por Jean Arthur) o seu revólver: “Uma arma é uma ferramenta, Marian. Não melhor nem pior que qualquer outra ferramenta. Um machado ou uma pá ou qualquer coisa. Uma arma é tão boa ou tão ruim quanto o homem que a usa. Lembre-se disso.”
Dona Marian também estava interessada na... digamos... pistola de Shane. Mas isto não é assunto para este horário...

O pintor dos pobres da Rússia

A imagem que decora a fachada do nosso Bar & Lanches Taboão é Taberna, óleo sobre tela executado em 1891 pelo pintor russo Andrei Petrovich Ryabushkin (Андрей Петрович Рябушкин).
Clique sobre a tela para ampliar
Ele nasceu em 29 de outubro de 1861, em uma aldeia no interior da Rússia. Suas principais obras foram dedicadas à vida das pessoas comuns de seu país no século 17.
Seu pai e irmão foram pintores, e ele começou a ajudá-los a partir de sua primeira infância. Ficou órfão aos 14 anos. Um famoso artista ao visitar a aldeia ficou impressionado com o talento de Andrei, e o matriculou na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Ryabushkin permaneceu por 7 anos (1875-82) nesta Escola. Seu primeiro grande trabalho foi a pintura de um camponês.
Em 1882, Andrei Ryabushkin foi para a Academia Imperial de Artes,
em São Petersburgo. Porém as aulas logo o entediaram. Ele começou a passar mais tempo na biblioteca e nas ruas. Dez anos depois, Andrei concluiu seu curso na Academia. Mas não recebeu o diploma, por ser considerado um aluno fora dos padrões acadêmicos. Todavia, o presidente da Academia o premia com uma bolsa de estudos na Itália e na França.
Ao invés de ir para as belas capitais européias, Andrei opta pelas velhas aldeias do coração da Rússia. Também passa a trabalhar nas decorações de várias igrejas. Mas sua opção definitiva foi pintar as pessoas humildes, que foram seus primeiros modelos, e a quem primeiro mostrava o produto de sua arte.

Em 1901, Andrei montou seu estúdio no vilarejo de Didvino. Tornou-se cada vez mais interessado na pintura da vida cotidiana. Sua obra não retrata os conflitos sociais, como gostariam os intelectuais progressistas da época. Mas também não é “bonita” como desejavam os ricos conservadores de então. Não havia como catalogar sua obra, e as pessoas simplesmente não o aceitavam.
Em 1903, os médicos diagnosticaram tuberculose no pintor. Ele foi para a Suíça em busca de tratamento, mas não encontrou ajuda. Morreu em seu estúdio de Didvino no dia 27 de abril de 1904.

Foi forte a farra, hein Velhinho?

O breque nas atualizações do blog na virada do ano acabou. Quem não detonou o fígado e empanturrou o bucho nas esbórnias natalinas, fica pra próxima.
O ano de 2008 já está com tudo em cima, e promete muita traquinagem por aí. A Ásia está com seus intestinos retorcidos, com a crise do Paquistão. A Turquia em crise de identidade (sou européia? sou asiática? que catso sou?) cofia o bigode a fim de mandar bala nos curdos amalocados no Irã. A África não dá um tempo com suas guerras fraticidas, golpes de estado e o escambau – vide o Quênia. A velha e boa (pra eles, lógico!) América do Norte está de olho em quem vai ter o botão vermelho ao alcance de sua mão, na nação mais poderosa do planeta. Os gringos irão de dona Clinton ou vão baratinar no papo e na idéia de mister Obama?
E minha para sempre Taboão da Serra já espicha os olhos para a esquina, de onde virão os cavaleiros do apocalipse na batalha eleitoral que se aproxima. Vai ser uma maravilha de abrição de fossas, acusações mútuas, facada no olho, bofetão na cara, jornais-vudús por debaixo das portas, e tudo o mais que faz a delícia de uma arrenhida e sórdida campanha municipal.
Que venha o abismo!!!

A pintura que ilustra esta postagem é The Last Days of Santa Claus (nem precisa traduzir, nénão?).
É um óleo sobre tela – medida original 176cm x 200cm – da pintora sérvia
Biljana Djurdjevic (foto).
Nas suas pinturas, Biljana Djurdjevic explora as ramificações da violência e raiva na cultura contemporânea, nas mais extremas formas possíveis.
Em perfeita aderência à tradição de seu país de origem, Biljana Djurdjevic relaciona os mitos do nosso tempo usando a linguagem do manifesto dos socialistas e da propaganda.
A bela e belicosa Biljana nasceu em 1973 na cidade de Belgrado, então capital da extinta Iugoslávia.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Fenice Tafvissáio!

Minha filha Maíra comemora 25 anos de vida hoje.
E a foto aí de cima não está errada. Mesmo quando ela chegar aos 50, 75... à idade que for, ao olhar para ela estarei vendo a mesma menininha de sempre. O ditado é tão antigo quanto verdadeiro: “filhos não envelhecem”.
A Maíra tinha um vocabulário todo peculiar, até por volta dos seus dois anos. Vivia (coisa de mulher) preocupada com a idade: “Quando vai ser meu tafvissáio?” Essa palavra estranha aí significava aniversário.
Quando sentia sede, pedia náco, que depois virou ácquo, e finalmente... água!
Nesta época de Boas Festas, era lindo ouvi-la desejar às pessoas: “Fenice Matal!”.
Certa feita cismei de levá-la para ver o Anhangabaú e arredores enfeitados para o Natal. Era a primeira vez que saíamos apenas ela e eu.
Tudo correu bem até chegarmos frente ao Mosteiro de São Bento. Lembra da cena do filme A Profecia, quando o pai vai levar o menino à igreja, e o garotinho esperneia aos berros diante do templo? Assim foi comigo. Bem no meio do Largo de São Bento, minha pequerrucha abriu um berreiro de fazer tremer o santuário.
Acontece que ela estava com catapora, as brotoejas ainda abertas. E fez xixi na fralda. A urina, logicamente, deixou suas feridinhas em brasa.
Desabalei numa carreira doida para achar local conveniente onde trocar sua roupa.
Mas até chegar no bendito sanitário onde pudesse aliviar o ardor com água e mudá-la de roupa... vou te contar... Pessoas me olhavam como se testemunhassem um seqüestro!!! Maíra chorava a plenos pulmões, e se contorcia toda inteira! Não para livrar-se do meu colo, é lógico, mas na ingênua tentativa de escapar da fralda que queimava-lhe as erupções!
Feliz aniversário, minha querida linda!
Saúde e sucesso. Sempre.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Pra começar bem a semana, 3 "causos" de bar

Uma crônica sentimental de Ignácio de Loyola Brandão, e dois contos com o humor cortante de Aldir Blanc, abrem nosso expediente nesta penúltima semana útil de 2007:

O elegante Bar do Pedro, onde nos formamos

Ignácio de Loyola Brandão

Olhando para trás me lembro de uma coisa curiosa. Nunca vi meu pai em um bar. Nunca soube se por religião, princípio, ou porque achava tolice, perda de tempo, ouvir conversa de bêbado. No entanto, anos mais tarde, quando escrevi meu primeiro livro, Depois do Sol, que se passa inteiro à noite, nos bares, ele leu e me chamou para dizer: "Que vida mais interessante a dessa gente da noite. Quer dizer que os bares são mesmo divertidos?" Mas não lamentou, o tempo passado era tempo passado. De qualquer modo, também nunca disse uma palavra de reprimenda na primeira vez que tomei um porre homérico (expressão daquele tempo, dos anos 50) e cheguei em casa, ele abriu a porta, viu meu estado, ocasionado por um litro de gim, o suficiente para me matar, eu que não bebia. Timidamente, ele confessou: "Não sei o que fazer, não posso te ajudar a resolver, não sei, nunca tive uma ressaca." Quem teve ressaca de gim sabe o que é. Sabe que nunca mais vai colocar uma gota dessa bebida na boca. Quando assisti ao filme Uma Aventura na África (The African Queen), passei mal ao ver Humphrey Bogart emborcando litros e litros de gim pelo gargalo, sem sentir o mínimo efeito.
Se a mulher nunca esquece o primeiro sutiã, um homem nunca esquece o primeiro bar. O meu foi o do Pedro, em Araraquara. Que não era do Pedro, era do Hotel Municipal, o Pedro era um homem alto, corpulento, moreno, educadíssimo, o melhor garçom da cidade, sabia tratar o vagabundo e o grã-fino, ainda que o grã-fino seja mais difícil. O bar do Pedro era antigo, austero, elegante, tinha divisões de madeira, saletas onde as pessoas podiam obter privacidade fechando a porta, resquícios de uma época de fausto que a cidade teve com o café, a estrada de ferro e o comércio. Depois, veio a decadência e um delegado corneado mandou pregar as portas que ficaram definitivamente abertas para evitar sacanagens. Dizem que a mulher dele freqüentava a desoras (expressão da época) as saletas, mandando ver. Não existiam motéis naquele tempo e os hotéis legais não aceitavam casais sem certidão de casamento. Vejam que tempo vivemos! Pensar que suportamos e sobrevivemos.
No bar do Pedro minha turma se reuniu por anos e anos, sempre no mesmo canto, juntando duas mesas. A cidade era provinciana, sem divertimentos, sem graça, nos sentíamos sufocados. Os bares fechavam por volta de onze da noite, menos o do Pedro que ficava até o último freguês. Éramos os últimos e os mais abonados do grupo (cito os nomes em homenagem, porque eu vivia na dureza: Hugo Fortes, Gadelha, Padua e José Eduardo de Almeida) acrescentavam algum por fora para aumentar a gorjeta, compensar tanta paciência.
No bar do Pedro destinos foram traçados. Eu, que ia fazer cinema, acabei escritor. O Zé Celso, que não era o maior freqüentador, mas aparecia, sabia que o advogado acabaria no teatro. O Salinas Fortes tinha na cabeça que a filosofia era o seu mundo e acabou traduzindo Sartre. O Faruk fazia odontologia, mas sonhava ser cantor de boleros. Teve consultório e cantou em cabarés e bares noturnos. Marco Antonio Rocha – outro eventual – fez direito, mas foi para o jornalismo, para a economia e a política, para a televisão. Tudo pensado, conversado, discutido, debatido, gritado no bar do Pedro.
Bebíamos cerveja e chope, coisas baratas. Ainda vigorava aquela história de casco escuro, casco claro, este rejeitado. Marcas? Brahma e Antarctica, nada mais. Ou Malzbier, mas quem queria cerveja de mulher? Quando a angústia pegava, juntávamos doses de genebra. Uísque, nem pensar, era caro, caríssimo, só americano. Old Parr e White Horse eram as marcas cobiçadas, nunca tomadas. Rum era deixado para os bailinhos, misturado com Coca-Cola. Para comer havia salame fatiado, mortadela, azeitonas, tremoços, queijo prato em quadradinhos. Cinqüenta anos depois nada mudou. Quando o dinheiro pintava, vinha provolone à milanesa. Adorávamos gorgonzola, ótimo para preparar o paladar para a cerveja, porém era queijo importado, tínhamos de pegar leve. No fim do ano, Pedro, perfeito anfitrião, oferecia por conta dele rodadas de chope e alguns aperitivos.
O bar do Pedro não existe mais. Um dia, provando a modernidade da cidade, ele foi fechado e transformado em agência da Cometa, dali partiram os primeiros ônibus para São Paulo, fazendo concorrência aos trens. A cidade mudava. Vieram lanchonetes de fórmica, padronizadas, feias, sem graça, vendendo hamburguers, toda comida junkie. Mas o bar do Pedro merece uma placa em Araraquara, na esquina da Rua 3 com a Avenida Portugal, porque várias gerações ali beberam e se formaram na matéria, aprendendo a se comportar, a saber freqüentar, a principalmente respeitar essa honorável e necessária instituição.


Camões naufragou no Adônis

Aldir Blanc

Nas tardes de verão, o Adônis enfrentava calmarias parecidas com as que jogaram Cabral em nossas praias. Um dos donos, o Sr. Arnaldo, saboreava um chope na companhia do Sr. Reis, proprietário da farmácia próxima, que também ficava a ver navios no mar da Zona Norte. Ambos eram portugueses e trocavam, igual figura carimbada, saudades da Terrinha. O Sr. Arnaldo, calmo e bonachão, ria-se muito, ao passo que o Sr. Reis emocionava-se violentamente com as conquistas ultramarinas, com as aventuras e feitos em África, às vezes até ferindo-se com os palitos do queijinho, como se flechas ou lanças o tivessem atingido traiçoeiramente.
Num desses amenos entardeceres cariocas, entre o estridular das cigarras e o bamboleio das suadas morenas regressando ao lar, o Sr. Reis deu um súbito e vigoroso soco na mesa.
- E na literatura, nós, os portugueses, temos o maior de todos! O Maior de Todos!
O Sr. José, garçom do estabelecimento, também lusitano, para profunda contrariedade do Sr. Arnaldo, estranhou:
- Tás a falar de quem, ó pá?
O Sr. Reis tornou-se arroxeado, sugerindo apoplexia a bombordo. Preocupado com a saúde do amigo e sabendo que o que mais dói na alma dos Vates é o esquecimento, o Sr. Arnaldo teve uma idéia que julgou salvadora. Improvisou com uma das mãos um tapa-olho, enquanto com a vista restante piscava para o garçom.
O Sr. José, de início, não compreendeu:
- É cisco? Pisca três vezes e reza uma Ave-Maria pra Santa Luzia.
A essa altura, os instrumentos de bordo prenunciavam tempestade da grossa. O Sr. Reis, sufocado, parecia um crepúsculo nos trópicos, tingido todo de violetas, púrpuras e lilases. Mas graças à Virgem de Fátima, o Sr. José abriu um vasto sorriso:
- Ah, entendi! Tapa-olho! É o Rum Montila!
O Sr. Reis caiu desmaiado.
Diante dos sonoros palavrões do Sr. Arnaldo, o Aureliano, natural de Feira de Santana, que guardava a caixa-registradora, balançou a cabeça:
- Seu Zé acertou de pura cagada, né? Com ele é assim: chuta e vai no alvo! Nem Vavá...


Ajuste Fiscal

Aldir Blanc

Baiano, nosso ministro sem pasta pra sacanagem, deu o alerta:
- Frozô vai aparecer com material novo no pedaço.
Frozô, grande vascaíno e boêmio, cultivava o curioso hábito de exibir mulheres monumentais no buteco onde biritávamos, talvez pelo prazer sádico de nos deixar com água na boca. No mesmo buteco, fazia ponto o Come Quieto, um inimigo mortal do Frozô. Jamais entenderemos porque as mulheres dão pra certos caras!
Come Quieto tocava violão e cantava sambas com bastante sutileza, mas era baixinho, feio e sonso. Quando uma das mulheres do Frozô pedia “Toca alguma coisa pra gente”, Come Quieto era todo modéstia:
- Mais tarde... mais tarde... aqui só tem cobra criada...
Frozô também odiava o fato de Come Quieto ter vários Palitos de Ouro, não se sabe se ganhos honestamente em campeonatos de purrinha ou mandados fazer de vigarice.
E um dia, Frozô apareceu com uma criatura da gente se atirar aos pés dela pra beijar as sandálias douradas. O inusitado é que Come Quieto, escroto como já dissemos, não a olhou uma única vez. Na hora de ir pra outro programa, Frozô contornou a mesa e tacou a mão no focinho do Come Quieto com tanta força que o cara ficou desacordado. Diante da revolta geral, Frozô, com a tetéia recostada em seu amplo colo, justificou o corretivo:
- Pato muito quieto em lagoa, tá a fim do cu da gansa.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Hoje, beba todas e reaja às PROVOCAÇÕES

Foto: Dora Nascimento
O poeta e agitador cultural Robinson Padial, o Binho, é o convidado de hoje do programa Provocações, da TV Cultura.
Ele é o criador do Sarau do Binho, que existe há cerca de 10 anos. Binho também idealizou o projeto Postesias.
No próximo dia 5 de janeiro, Binho e seus parceiros de artes vão meter o pé na estrada com a Expedición Donde Miras, que vai percorrer desde a periferia da Grande Sampa até os arrabaldes de Santiago, no Chile.
Programa Provocações
Sexta-feira, 14/12, às 23h30
TV Cultura

Neste sábado, você tem um encontro marcado com ANTÔNIA

Foto: Marcelo Vigneron
O Espaço Cultural Resistência e Ousadia (Ecro) exibirá sábado dia 15/12, a última sessão do ano. A obra escolhida é Antônia, filme de Tatá Amaral. A trama gira em torno de um grupo de amigas que desde a infância sonham em viver da música. Deixam o trabalho de vocalistas de conjuntos de rap, e formam sua própria banda batizada de Antônia (do latim: guerreira, que não tem preço, gloriosa). A ação se passa na Vila Brasilândia, periferia da zona norte na Capital de São Paulo. O elenco tem Negra Li, Leila Moreno, Quelynah, Cindy, Thaíde, Sandra de Sá, Thobias da Vai-Vai, Nathalye Cris, Z'Africa Brasil. É uma produção de 2006, com 90 minutos de duração. A exibição será às 18h30, com entrada grátis.
Após a projeção, haverá um bate-papo com Mislene e Raquel, MCs do grupo Ympito-Afro, e representantes femininas do Hip Hop de Taboão da Serra.
O cineclube voltará às atividades em 18 de janeiro de 2008.
ECRO- Espaço Cultural Resistência e Ousadia
Av. dr. José Maciel, 584 – Jd Maria Rosa
Taboão da Serra – Fone: 4771-6806

O homem que olhava as tabernas

O pintor Andriaen Brower cabe perfeito na famosa frase (“A vida é curta, a arte é longa”) de Hipócrates, o pai da medicina.
Nasceu na Bélgica no ano de 1605 ou 1606, e viveu somente até 1638.
Ele trabalhou também na Holanda, provavelmente em Amsterdam e outras localidades próximas àquela capital. Seus últimos sete ou oito anos de vida foram passados em Antuérpia.
Nos 33 anos de existência, seus cenários preferidos para a pintura eram as tabernas, e os lugares rudes onde vivia o povo humilde.
O quadro à esquerda foi pintado na Antuérpia, por volta de 1635.
No personagem de costas, está bem visível o seu punhal, dando-nos a entender o quanto deviam ser “barras-pesadas” os lugares onde nossos antepassados freqüentadores de botecos passavam seus momentos de lazer. (Clique sobre o quadro para ampliar)
No quadro à direita, Andriaen Brower retrata uma violenta briga entre camponeses dentro da taberna.

Segundo alguns estudiosos, Brower fez seu auto-retrato no quadro “Os Fumantes” (abaixo). Nesta pintura de cerca do ano de 1636, Brower seria o homem no primeiro plano, soltando anéis de fumaça pela boca. Os outros personagens seriam seus colegas pintores em uma farra de fumo e bebidas em uma taberna da Antuérpia.

Esse é o lugar!

Casa de samba tradicional funciona há seis meses no bairro do Belém

Neste sábado, dia 15/12, o Refúgio do Sambista faz a sua apresentação de saideira do ano de 2007.
É um espaço de resistência do autêntico samba como cultura popular. Foi fundado há seis meses pela Associação Cultural dos Funcionários da Fundação Casa (ex-Febem). A casa com decoração rústica tem acomodações para 120 pessoas. As mesas são dispostas em ambiente coberto, e também ao ar livre sob árvores, ao lado da churrasqueira e do fogão à lenha.
Inicialmente o Refúgio do Sambista funcionou apenas aos sábados. A partir de janeiro, abrirá de 4ª-feira a domingo. “Esta determinação é para que possamos desenvolver sem atropelos a nossa filosofia de eventos para o ano que vem”, explica Ary Marcos, um dos organizadores do local.
Homenagem a Eduardo Gudin
O Refúgio do Sambista coroou suas atividades deste seu semestre inaugural, com uma grande homenagem ao compositor, maestro e arranjador Eduardo Gudin. Todos os meses haverá um homenageado especial. Gudin foi saudado pelo seu imenso trabalho musical, e como o segundo maior nome do samba paulistano. Na minha opinião, ele só está atrás do mitológico Paulo Vanzolini.
Os preços são de casa de samba de verdade: cerveja a R$ 3,00; caipirinhas a partir de R$ 5,00; almoço a R$ 8,00 (serve duas pessoas). O destaque do cardápio é o famoso angu com carne seca desfiada.
Sábado – 15/12 – A partir das 14h. Grupo Em Nome do Samba (Tiago – cavaco, Michael – violão de 7 cordas, Diogo – violão de 6 cordas, Jackson – surdo, Heber – pandeiro)
Ingressos: R$ 3,00
Domingo – 16/12 – A partir das 13h30. Grande roda de samba comandada pela Comunidade do Samba Passado de Glória e convidados ( Terra Brasileira, Samba em Cartaz e outros).
Ingressos: 1kg de alimento não perecível (exceto sal)
Refúgio do Sambista
Rua Siqueira Bueno,136 - Belém
(a dois quarteirões do Metrô Belém)
Fone: 6698-5889

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Governo Federal investe em “polo turístico” de Taboão da Serra

Há anos moradores do entorno da Praça Vital Brasil, na Vila Indiana, denunciam a convivência temerosa com ratos e bichos peçonhentos que infestam o local. A praça é favorita para despejo de entulho e todo tipo de resíduos.
Para urbanizar o local, o prefeito Evilásio Farias inventou uma fórmula capaz de fazer corar o Professor Pardal. 
Transformou a biboca em ponto de atração para viajantes, e abiscoitou R$ 97.500,00 de dona Marta, ministra do Turismo.
Evilásio promete colocar mais R$ 41.800,00 em cima desta grana, e “revitalizar” a praça.
Aí é onde o verbo emperra. 
Revitalizar o que não foi construído?
Vejam só “esta maravilha de cenário” onde o Ministério do Turismo vai despejar a bufunfa. Dá uma vontade danada de passar uma temporada lá, nénão?

O prelúdio sambado de Baden Powell, e o pileque implicante do Poetinha

Para Carlos Silva

O Samba em Prelúdio teve sua primeira gravação no dueto da cantora Ana Lúcia com Geraldo Vandré, em 1962, no mesmo ano em que foi composto por Baden Powell e Vinícius de Moraes. 
Certa noite o violonista chegou entusiasmado na casa do poeta, no Rio: “Ah, Vinícius! Eu fiz um samba tão bonito... Ele deve ser cantado por um homem e uma mulher”. “Toca aí!”, disse Vinícius. Baden ainda não tinha um título para a música, mas sabia que a letra devia ser um diálogo romântico.
Era por volta das dez e meia, onze horas da noite. O poeta ficou empolgadíssimo com a canção. Abriram uma garrafa de whisky. “Toca outra vez!”, pedia Vinícius, numa sucessão de doses e pedidos de nova execução do samba que empurrou os parceirinhos madrugada adentro.
Às quatro da manhã, já na virada da terceira para a quarta garrafa, Baden questiona: “Ô, Vinícius, e a letra, como é que é?” O parceiro se amoita: “Sabe, Badinho. Eu queria te dizer uma coisa, mas é desagradável. Deixa pra amanhã...” Baden se incomoda: “O que houve?” O poeta, irredutível. Não adiantava Baden pedir. O dia vinha raiando, e nada de Vinícius desembuchar. O violonista aperta o cerco: “Vininha, estamos aqui entre quatro paredes só você, o violão, estas garrafas e eu. Somos amigos, pôxa, desabafa!” O poeta se abre: “Sabe o que é, Baden? Tô achando que esta música é plágio...”. “Que é isto?”, protesta Baden, “fiz a música entre ontem e hoje. Não tem plágio nenhum!”. Segue-se o bate-boca:
- Tem plágio sim – insiste Vinícius.
- Você está bêbado, e vem dizer que plagiei? – rebate Baden.
- Quem está bêbado é você. Eu tenho o ouvido perfeito.
- Esta música é minha!
- Você bebeu muito, está tocando a música de outro dizendo que é tua. É plágio!!!
- Plágio de quem?
- Você está tocando Chopin. Isto é Chopin puro!
Baden ficou muito revoltado. O poeta toma uma decisão: “Vou acordar minha mulher. Ela é boa pianista, adora Chopin, e vai provar o que eu digo”. Baden se incomoda: “Pô, Vinícius. São seis horas da matina. Deixa a coitada dormir!” Não tem jeito. A moça é acordada, desce para a sala, e muito sem graça Baden toca para ela uma, duas vezes. “Isso não tem nada de Chopin”, diz a mulher. “É uma música romântica. Chopin também era romântico.” Aí, Vinícius implicou com ela também: “Quer dizer que não é Chopin? Tem certeza que não é Chopin?” Diante da convicção da mulher, Vinícius ficou sem saída e apelou: “Então Chopin esqueceu de fazer essa”.
Clique à direita para ter a letra e a música cifrada.
Se você é bamba e quer a partitura original do Baden, copie em: http://www.brazil-on-guitar.de/tabs.html

Samba em Prelúdio - Baden Powell

Programa Ensaio - TV Cultura - Gravado em 1990

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

“Velho Chico” vence mais um round

A atriz Letícia Sabatella foi prestar solidariedade à greve do bispo no último sábado.

O Tribunal Regional Federal de Brasília concedeu há pouco uma liminar suspendendo as obras de alteração do curso do Rio São Francisco.
O bispo Dom Luiz Cappio, 61 anos, entrou hoje no seu 15º dia de greve de fome contra a transposição das águas. Ele foi informado da decisão judicial na Capela de São Francisco, em Sobradinho (BA) onde cumpre o seu protesto.
O religioso disse, entretanto, que só vai suspender a greve de fome quando as tropas do Exército se retirarem do canteiro de obras.
Nos últimos dois anos, o bispo fez várias manifestações contra as mudanças no leito do Rio São Francisco. Esta é a segunda vez que ele deixa de se alimentar para defender o c urso natural daquelas águas. Na greve anterior, Dom Luiz Cappio ficou onze dias sem comer.
O governo lula quer que o ministro Geddel Vieira Lima consiga da Igreja Católica uma condenação ao sacrifício auto-imposto pelo padre. Como em vezes anteriores Geddel xingou o religioso de “chantagista”, o acordo deve ser mais difícil do que na greve anterior.
A cada dia vêm aumentando as adesões à luta contra a transposição do “Velho Chico”, como o rio é chamado pelos seus ribeirinhos.

Deixem a escultura almoçar!

“Ela tem o currículo excelente!”, babou-se o senador de Rondônia, depois de conversar a sós com a dona das pernas da foto acima.
O papo reservado deu-se na semana passada, quando a economista Solange Paiva Vieira foi sabatinada e comida com os olhos pela comissão de senadores que apreciam seu nome (e tudo o mais situado entre a unha do dedão do pé e os cabelos) para presidir a nefasta ANAC (Agência Nacional de Aviação).
A moça já foi alta funcionária do governo FHC. E como o governo lulista apela cada dia mais às jóias da coroa do tucanato, a sugestão do doublé de canastrão e ministro da (in)Defesa Nelson Jobim deve ser aceita sem turbulências.
A bronca da turma do Bar & Lanches Taboão é que os babões do Senado já sabatinam a escultura desde as 11h30! Deixem a moça ir abastecer os 1,67m de altura de seu corpo moreno!!! Ou algum deles quer estender a... digamos... comissão até algum restaurante?

Serra, o IPVA, e a bondade de fachada

O projeto de lei de José Serra para devolver o valor do IPVA aos donos de carros que forem roubados, não deve ser encarado como sensibilidade política.
É pura obrigação.
Já no longínquo ano de 1655 disse o bom e velho Padre Antonio Vieira, quando pregou na Capela da Misericórdia, em Lisboa, o Sermão do Bom Ladrão:

Aquele que tem obrigação de impedir que não se furte, se não o impediu, fica obrigado a restituir o que se furtou. E até os príncipes (governantes) que por sua culpa deixarem crescer os ladrões, são obrigados à restituição (...)”.

O doce sabor da Pitanga

Está garantido que o ponto alto do (previsível) programa natalino de Roberto Carlos para este ano, será a participação muito além de especial da excepcional atriz Camila Pitanga. A
mulher que teve o Brasil a seus pés em 2007, comoverá a Nação quando, entre lágrimas e com sua gravidez à vista, cantar com o autor Olha e Como É Grande o Meu Amor por Você.
O programa vai ao ar na noite do dia 25, na Globo.

Lobos no galinheiro

Está levando à exasperação a forma agressiva e paranóica com que tratam o público os vigilantes de bancos. Fazem o infeliz usuário pagador de CPMF revirar bolsos, bolsas, exibir chaveiros e todo e qualquer material metálico. Dia destes, um cliente ameaçou atracar-se com um desses gorilas, pois tinha pinos na perna, e a porta eletrônica apitava enlouquecida, como se fora o rapaz o rei dos ladrões.
O grande problema dos assaltos a bancos não são os clientes. É a própria vigilância, informa o DEIC (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).
Na semana passada, o Deic prendeu um grupo de vigilantes que contratava assaltantes para roubar as agências bancárias onde trabalhavam. O preço da “fita dada” era 10% do dinheiro roubado para os vigias-lalaus.

Êita governinho burro, sô!

O ex-banqueiro e sempre malandro internacional Salvatore Cacciola está sendo muito ajudado pelo governo lula. Ele já havia sido beneficiado pelo governo tucano, e agora goza da cota de bondades embrulhadas em burrice da gestão petista.
Não bastou o rábula Tarso Genro ter feito um passeio inútil a Mônaco, sem levar os documentos necessários ao pedido de extradição do gângster preso desde 15 de setembro. O novo (não será o último) imbróglio dos capangas do lulismo foi enviar a documentação em uma tradução tosca.
A Justiça de Mônaco nem quis saber. Mandou a trôlha toda de volta.
Rafael Favetti, enviado àquele país pelas antas do Planalto confessa: a tradução foi feita nas coxas, em partes distribuídas por vários tradutores contratados na última hora...
Enquanto isto, Cacciola se diverte na sua doce prisão às margens do Mediterrâneo, e promete fazer a delícia da imprensa em breve. Veja o bilhete abaixo, entregue na semana passada aos jornalistas.