domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ministro do Esporte será o terceiro negro do governo lula a cair (?)

Profetizar a curto prazo é temerário. Todavia a situação do ministro do Esporte Orlando de Tal se complicou gravemente.
O cruzamento dos dados da agenda ministerial com os extratos publicados nesta 6ª-feira, dia 15 de fevereiro, no Portal da Transparência, prova que ele usou o cartão corporativo em dias de folga. E pagou despesas de convidados em restaurantes. São práticas proibidas pela Controladoria-Geral da União.
Baiano de Salvador, 37 anos de idade, Orlando de Tal viajou na maionese do poder, repetindo mancadas de suas colegas ex-ministras Matilde Ribeiro e Benedita da Silva (leia
Que vacilo, hein Matilde?).
Já repararam que não chamo o ministro de "Orlando Silva", como ele gosta. Orlando Silva me lembra o cantor das multidões, brasileiro honrado, ícone da cultura nacional que brilhou no céu da Pátria de 1915 a 1978.
O nome correto do ministro do Esporte é Orlando Silva de Jesus Junior. Por que ele não se apresenta como "Orlando de Jesus"? Ou "Orlando Junior"? Ele quer é a sonoridade do nome do cantor. Mas, aqui no boteco, Orlando Silva é só no tocador de CDs.
Dito isto, vamos ver como Orlando se lambuzou com o dinheiro público.
Em grande parte dos lançamentos de despesas, seus gastos giram sempre em torno dos R$ 200,00.
No dia 2 de fevereiro, Orlando disse que devolveu aos cofres públicos R$ 30.870,38. Tudo porque foi denunciado o pagamento de R$ 8,30 por uma tapioca que ele comeu, e pagou com o dinheiro do povo. Como se diz nos botecos, quando o cara se desculpa demais, a coisa é mais feia do que parece...
Orlando é do PC do B, mas é chegado nos restaurantes e botecos da burguesia.
No dia 25 de setembro de 2007, o ministro gastou R$ 468,05 no restaurante Bela Sintra, nos Jardins, São Paulo. Ali, o valor médio da refeição é de R$ 150 por pessoa. Orlando bancou a comilança de convidados.
Em 22 de outubro, dia que não estava em serviço, Orlando gastou numa churrascaria R$ 198,22. Na mesmíssima data, não contente em ficar com o bucho cheio de picanhas, maminhas e mamatas com a grana do povo, Orlando foi torrar mais R$ 217,80 no Le Vin Bistrô, uma casa chique francesa, com filiais instaladas nos bairros "proletários" de Cidade Jardim, Itaim e Higienópolis.
No dia 29 de junho de 2007, quando a agenda de Orlando Silva informava que ele iria "despachar internamente" no seu gabinete em Brasília, o extrato de seu cartão mostrava gasto de R$ 196,23 em uma churrascaria do Rio de Janeiro.

A tapeação da tapioca
Quando foi flagrado pagando uma reles tapioca com o suado dinheirinho dos brasileiros, Orlando fez cara de anjo, enrolou: "Eu confundí os cartões".
Agora que os extratos de suas despesas já estão revelados, ele diz que “há uma falha na atualização” dos dados.
Na próxima 2ª-feira, Orlando vai se encontrar com lula, para lançarem a Timemania, loteria para saldar as dívidas dos cartolas do futebol com a Receita Federal.
Vamos ver com que cara o ministro gastão será recebido pelo seu patrão...
Ministro do Esporte na entrega de verba federal para a Portela

Libera a manguaça, dotô! – 4ª dose

ou
Correndo atrás do próprio rabo

Já no 1° dia de fevereiro, o nosso Bar & Lanches Taboão deu o berro contra a Medida Provisória e precária assinada por lula proibindo comerciantes de Taboão da Serra venderem bebidas alcoólicas (1ª dose).
Pois não é que a classe política de Taboão só acordou quando já estávamos na 3ª dose?
Agora, alcaide e edis levantam, juntos, um brinde à estupidez lulista de punir comerciantes, ao invés de encanar motoristas cheios de cana. É discurso que não seca mais. E até requerimento da Câmara Municipal em favor dos copos cheios.
Porém (e sempre tem um porém, como ensinou Plínio Marcos) por que estas autoridades não se mobilizaram em tempo hábil? O prejuízo que os comerciantes instalados às margens da BR-116 estão tendo desde 1° de fevereiro, devia ser debitado na conta desta classe política relapsa.
O lula assinou a Medida anti-manguaça em 21 de janeiro. E as autoridades de Taboão podem ser tudo; menos mal-informadas. Mas não deram um pio antecipado de protesto contra o autoritarismo trôpego da nefasta MP 415.
Agora, estão correndo atrás do próprio rabo, para agradar balconistas e beberrões.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

ECRO lança olhar sobre crianças e jovens

Foto: Marcelo Min
Neste resto de fevereiro e em março o ECRO (Espaço Cultural Resistência e Ousadia) apresenta um ciclo de cinema sobre a infância e a adolescência. Na mostra, serão exibidos a cada sábado três documentários e três longas-metragens.
Na primeira sessão, neste sábado 16 de fevereiro, serão projetados sete curtas produzidos em vários países, agrupados em um único título revelando crianças sob várias formas de sofrimento.
É bom você chegar cedo, porque a sala de projeção tem capacidade para 30 pessoas.

Crianças Invisíveis - 2005, 116 min. Direção: Mehdi Charef, Kátia Lund, John Woo, Emir Kusturica, Spike Lee, Jordan Scott, Ridley Scott e Stefano Veneruso.
Entrada grátis. Início: 18 horas.

Espaço Cultural Resistência e Ousadia - Av. Dr. José Maciel, 584 - Jd Maria Rosa - Taboão da Serra. Fone: (11) 4771-6806

Cabriteiros de Taboão pagam R$ 200 para puxador

A PM prendeu às 4h da madrugada desta 6ª-feira um ladrão de 17 anos, que dirigia um Fiat Idea preto roubado horas antes em Taboão da Serra. O marginal trafegava pela avenida Francisco Morato, quando os policiais iniciaram a perseguição que durou 10 minutos, e só terminou quando o bandido bateu em um carro importado.
Durante a fuga, o ladrão entrou na contramão na ponte Eusébio Matoso, e seguiu em direção à avenida Rebouças. Ao tentar entrar no túnel Fernando Vieira de Melo no sentido bairro-centro, o fugitivo bateu na traseira de um Subaru Legacy.
O ladrão estava acompanhado de uma adolescente, e armado com uma faca. A “mina” alegou à Polícia que não sabia que o carro era roubado, e foi liberada.
O ladrão confessou que “prestava serviço como puxador de carros” a um tal Chiquinho, quadrilheiro especializado em roubos de automóveis. A cada "puxada de carro roubado" o carinha faturava R$ 200,00. Ele foi encaminhado para a Fundação Casa (ex-Febem).
O ladrão bração bateu o carro no túnel da avenida Rebouças

Um hóspede ilustre

O ex-cardeal de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, está vivendo numa casa de repouso em Taboão da Serra.
Ele foi ordenado padre aos 24 anos de idade, e está aposentado desde 1996.
Dom Paulo teve papel importante na criação de comunidades eclesiais de base, e no fortalecimento da Pastoral Operária.
Durante o seu arcebispado, a Catedral e a Praça da Sé transformaram-se em importante palco de resistência ao regime militar.
As pessoas próximas do religioso enaltecem o seu bom estado de saúde. Dom Paulo completará 87 anos em setembro.

Evite urinar na sepultura

Em divertida crônica, o poeta-jornalista Marco Pezão conta o que aconteceu quando aquela socióloga bela e fogosa chegou em casa de madrugada, depois de uma bebedeira monstro com a amiga advogada num butiquim da Vila Formosa.
Clique sobre o título para ler: Íntimas e Bêbadas

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Libera a manguaça, dotô! - 3ª dose

Comerciantes de Taboão da Serra, Embu e Itapecerica, estabelecidos às margens da BR-116, fizeram ontem à tarde um protesto contra a Medida Provisória do presidente lula que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais.
A mobilização foi capitaneada por Roberto Terassi, vice-prefeito e dirigente empresarial de Embu.
Mas quem encheu a taça do teor político no evento foi o abstêmio (?) Evilásio Farias, prefeito de Taboão eleito pelo PSB, partido aliado de lula.
Embriagado pela sala cheia de gente, Evilásio sentou o cacete no presidente. “[Ele] disse que a MP é injusta já que acaba punindo pessoas que não cometeram nenhum erro”, conta a repórter Sandra Pereira, presente ao encontro.
Evilásio anseia pela graninha do PAC de lula para reforço de caixa na sua campanha pela reeleição. Mas, sabe como é... No balcão, de cara cheia, tem gente que fica arrogante, auto-suficiente. E Evilásio condenou lula por ter tropeçado ao apontar falsos culpados pelos acidentes nas estradas: “Ele criticou a transferência da responsabilidade dos condutores para os comerciantes”, continua a jornalista.
As palavras ganharam gosto de pinga com jurubeba na boca de Evilásio, e veio a sarrafada final no bestunto de lula: “[O prefeito Evilásio Farias] disse que o governo não tem aparato e nem força política para pegar os ‘assassinos que andam nas estradas’”.
Inebriado pelo seu discurso, que queimava a platéia feito conhaque com limão, Evilásio engatou sua sempre repetida sessão de auto-glorificação, mas misturou cerveja com semáforo. Daí a mocinha da reportagem parou de anotar o que ele dizia.

Eu já ví e ouví muita gente chamar o lula de uma pá de coisas. Mas de frouxo ("sem aparato" e "sem fôrça") igual ao que meteu a bocona o Evilásio, "nunca antes na história deste País".
Se você pensa que eu estou arrumando intriga entre o alcaide e o presidente, leia aqui:
http://otaboanense.com.br/2008/not_251m.htm

A montanha rugiu, e pariu um rato

A assessoria ufanista do prefeito Evilásio comentou em dezembro de 2007, que a festa de aniversário de Taboão da Serra em 2008 seria “um ‘mega-evento’ que deverá reunir pelo menos 100 mil pessoas”. Que dado à grandiosidade do evento, “o local já foi definido, mas os organizadores guardam a informação a sete chaves...”. Como se não bastasse, Taboão viraria a capital nacional das duplas sertanejas “com nada mais, nada menos, do que Bruno e Marrone, Edson e Hudson, Rick e Renner, César Menotti e Fabiano e pelo menos mais três famosas duplas sertanejas que serão confirmadas até o fim de dezembro”. Pra arrematar, apregoaram: “uma atração internacional ainda está sendo cogitada para encerrar a grande festa”.
Vamos aos fatos:

A comemoração dos 49 anos de emancipação municipal será na previsível Praça Luiz Gonzaga, onde sempre acontecem shows no Pirajuçara (não tem pprra nenhuma de segredo a 7 chaves). Do suposto público de 100 mil pessoas, a assessoria agora dá o desconto: “No auge da festa, [com] a apresentação dos sertanejos Edson & Hudson, o público esperado é de 20 mil fãs”.
Daí você pergunta: cadê as outras duplas adicionadas de “pelo menos mais três famosas”? Relaxe; contente-se com o que tem. Vai ficar restrito à gemedeira da solitária dupla sertanojo.
E a atração internacional? Bom... só se eles consideram “atração internacional” o tal Edu Ribeiro, que fez a merda sonora “Me Namora”.

Vou-me embora pra Guaramiranga

Olhando a agenda cultural de milhares de cidades brasileiras (a minha inclusa) sinto inveja do povo de Guaramiranga, e parafraseio Manuel Bandeira que anelava por Pasárgada.
Guaramiranga é uma cidade serrana no centro-norte do Ceará, incrustada no Maciço de Baturité, a 865 metros acima do nível do mar. Fica a 123km de Fortaleza, e tem apenas 5.800 habitantes.
Aqueles sertanejos são abençoados pelo 
Festival de Jazz e Blues que ali acontece há oito anos, em fevereiro – justamente o mês de aniversário de minha cidade assolada pelo lixo expelido pelas gravadoras.
Diferente dos taboanenses brindados com música de prostíbulo, os nordestinos de Guaramiranga já foram visitados por João Donato, Hermeto Paschoal, Egberto Gismonti, Paulo Jobim, Márcio Montarroyos, Manassés, Ivan Lins, Nana Vasconcelos, e os internacionais Scott Henderson e Stanley Jordan.
Estes gênios da música se apresentam no teatro da cidade, e também a céu aberto nas escadarias da Igreja Matriz.
Neste ano, houve a participação do bandolinista Hamilton de Holanda, o gaitista de blues Jean-Jacques Milteau, o grupo Les Frères Guissé, do Senegal, e a lendária Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto.
Ah!... Quando os músicos guardam seus instrumentos e vão embora, os responsáveis pela Cultura em Guaramiranga promovem outros festivais: Arte em Flor (em agosto), o Nordestino de Teatro Amador (em setembro), e o de Gastronomia (também em setembro).

Quando for ao nordeste brasileiro em fevereiro, "vá-se embora pra Guaramiranga".
Veja a história do festival e a programação aqui

Roupas secam nas escadarias da Igreja Matriz de Guaramiranga, palco do Festival de Jazz & Blues. - Foto: Rodrigo Arnaud

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Libera a manguaça, dotô! - 2ª dose

Avisamos no dia 1º de fevereiro (leia a 1ª dose) que a lei-sêca do lula ia tumultuar os balcões como nunca antes na história deste País.
Até a última 6ª-feira dia 8 de fevereiro, a Justiça Federal já havia concedido 32 liminares contra a Medida Provisória que proibe a venda de bebidas alcoólicas às margens das rodovias federais.
Um dos estabelecimentos beneficiados foi o Carrefour de Taboão da Serra. A juíza federal substituta Fernanda Souza Hutzler, da 20ª Vara Cível de São Paulo, autorizou o hipermercado a vender destiladas e fermentadas à vontade. Apesar da ordem judicial ter sido expedida na 6ª-feira, a decisão foi publicada apenas ontem.
Fernanda Hutzler aproveitou para criticar a atitude de lula, em colocar policiais rodoviários para fiscalizar os gargalos das garrafas pelo Brasil afora: "É desvirtuar a função. A Polícia Rodoviária Federal não tem competência para fiscalizar comércios, mesmo que estejam às margens de rodovias federais. Sua missão é a segurança e a fiscalização das normas de trânsito".

Amigo do copo

No dia 9 de maio de 2004, o jornal The New York Times publicou reportagem de Larry Rohter sobre o hábito etílico de lula. Houve uma tentativa dos petistas em expulsar o jornalista do Brasil. Depois roeram a corda, o repórter não foi processado, nem requerido direito de resposta no jornal. Diz o ditado: "quem cala, consente".

Na foto abaixo, um instantâneo de lula entornando uma cachaça em São José do Rio Pardo no dia 13 de junho de 2000, durante uma caravana pelas rodovias paulistas. Naquela época, para lula a sigla MP não significava Medida Provisória; era Mais Pinga.

Oh, Tricolor! Paga o Peixinho!!!

Na primeira semana de janeiro deste ano, o escritor Ignácio de Loyola Brandão encontrou-se com o ex-jogador Peixinho, ponta-direita do São Paulo FC no início da década de 1960 (na foto à direita, Peixinho é o primeiro da esquerda, agachado).
Como é comum em conversas de velhos amigos, evocaram o passado. Na inauguração do estádio do Morumbi, no dia 2 de outubro de 1960, Peixinho abriu o placar com o gol da vitória do São Paulo 1 x 0 Sporting de Lisboa.
Os cartolas tricolores prometeram um carro a quem estreasse o placar do novo estádio.
- Daqui a três anos, vou comemorar – disse Peixinho.
- Os 50 anos do primeiro gol? – perguntou o escritor.
- Não! Os 50 anos do carro que nunca recebi - riu Peixinho.

Diante do espanto de Ignácio (autor do livro São Paulo, a Saga de Um Campeão) Arnaldo Poffo Garcia, o lendário Peixinho, hoje com 67 anos, ironizou: “Vai ver, perderam a chave, o carro deve estar ainda no porão do estádio. Talvez seja um velho Fusca”.
Ironias à parte, Peixinho tem uma explicação para o não cumprimento da promessa:
Foto: Márcio Torvano - 13.jun.2007
- No fundo, esperavam que o gol fosse feito por um dos dois cobras do time, o Gino ou o Canhoteiro, megajogadores. Daria muita mídia. Mas foi o menino recém-saído do juvenil [vindo da Ferroviária] que escreveu a história. Acho que frustrei expectativas. Esqueceram. Talvez nas bodas de ouro do gol me entreguem o carro que nunca vi.

Publicado no O Estado de São Paulo, 11 de janeiro de 2008, Caderno 2, página D10.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Íntimas e Bêbadas (midraxe hagadá)

Por Marco Pezão

Paula e Andressa cursaram juntas o colegial. Amizade intensa brotou em comunhão. Embora tenham escolhido faculdades diferentes, ambas prestaram o cursinho e optaram pela mesma universidade. Desde essa época tornaram-se cúmplices quanto aos direitos feminis e politicamente exerciam pensamentos esquerdistas, sempre almejando uma revolução; a tomada do poder em prol dos menos favorecidos.
Terminados os estudos, Paula formou-se em Sociologia e Andressa diplomou-se em Direito Criminal. Devido às dificuldades de emprego imediato resolveram lecionar, conseguindo algumas aulas em uma escola na zona leste da capital paulista.
Um dia, num barzinho de classe média, em Pinheiros, conheceram dois amigos também professores. O relacionamento entre os casais acalentou enorme paixão. Depois de certo tempo, noite de sábado, quando reunidos na mesma curtição, como normalmente faziam, o duplo pedido de casamento fez crescer ainda mais o sentimento mútuo.
O consentimento veio selado por beijos apaixonados, porém, uma ressalva ficou esclarecida. Elas exigiam que, ao menos uma vez por mês, teriam liberdade de encontrarem-se sozinhas, resguardando, assim, o direito de mulheres livres e independentes.
O dúplice matrimônio não demorou acontecer, sem pompas maiores. Após a viagem de lua de mel, o prosseguimento das atividades e o bom relacionamento constante davam mostras de planejamento familiar. Os filhos viriam quando a situação econômica estivesse mais sólida.
Passado um ano de feliz convivência e respeito, Paula e Andressa mantiveram o combinado. Com regularidade percorriam a cidade paulistana indo a bairros longínquos, sempre com atenção voltada ao desenvolvimento.
Em certas ocasiões, porém, o empobrecimento que tomou conta da periferia as deprimia. Então, em algum bar distante, desabafavam toda sorte de críticas à sociedade dominante e à política de globalização.
Mas, na maioria das vezes, bebiam pela alegria de viver, e pela felicidade encontrada cada qual em seu marido, que, até então, respeitavam o pacto adquirido. Não sem sentirem uma ponta de ciúmes, pois, claro, tratava-se de duas belas e fogosas mulheres.
Definitivamente, não havia sombra de leviandades nas atitudes. Elas empunhavam a bandeira feminista, sem deixar de serem femininas, e, com certeza, adoravam tomar casualmente um pileque. Um dia, a trajetória às levou para as bandas da Vila Formosa. Por prazer ou depressão, não se sabe, o fato é que as duas exageraram nas cervejas e caipirinhas. As horas passaram e ao se darem conta, os ponteiros do relógio marcavam meia-noite.
Andressa, se dizendo mais sóbria, assumiu o volante do carro. Dez minutos depois, a irresistível vontade de urinar às incomodou em desespero. Decidiram estacionar e aí perceberam que estavam à frente do maior cemitério de São Paulo.
Íntimas e bêbadas caminharam até um portão, ocasionalmente entreaberto. Na escuridão plena, ao lado de um túmulo, desaguaram. Andressa, ao terminar, usou a própria calcinha para se enxugar e limpar os respingos que atingiram as coxas.
Paula, de cócoras, demorou mais no ato e viu a amiga jogar fora a calcinha usada. Sorriu zonza olhando a própria lingerie, lembrando que o esposo adorava essa peça, presenteada por ele.
Então, sobre o mausoléu, pegou uma fita da coroa de flores e secou-se. Abraçadas e desajeitadas foram embora...
No desenrole aconteceu o seguinte. Cedo, por volta das 8 horas, os maridos, enlouquecidos, conversaram ao telefone:
- Alô, Agenor! Pô, acabei! Pô, acabou meu casamento! Andressa chegou em casa de madrugada, embriagada e sem calcinha!
- E eu Carlão, e eu Carlão? A Paula me aparece às duas horas da manhã, com uma faixa presa na bunda escrita assim: Jamais te esqueceremos. João, Paulo, Lucas e toda a turma da faculdade! Cara, não deu pra segurar, quebrei ela de porrada!

Um mulherão para os olhos e os ouvidos

Amanhã, o Bourbon Street Music Club vai ser tomado pelo talento abusivo de uma deusa que atende pelo nome terrestre de Paula Lima (à esquerda em foto de Marcos Hermes).
Ela é uma das personalidades musicais que julgo mais atordoantes no momento.
Uma apresentação de Paula Lima exige o máximo de nossa visão e audição. Não lhe basta o vozeirão magestoso. A diva está no vigor de seus 38 anos; uma usina humana de eletrizante magnetismo.
E não é apenas mais “uma sabiá” neste grande viveiro de cantoras chamado Brasil. Paula é extremamente preparada. Estudou piano dos sete aos 17 anos. É formada em Direito pela Mackenzie, e pretendia ser Promotora Pública – seria um desperdício este mulherão confinado à rotina forense. Desencanada de mandar pilantras pra cadeia, Paula foi cursar publicidade. Estava no seu terceiro ano na FAAP quando foi resgatada para a Música.
O repertório básico do show são as músicas de seu último CD Sinceramente. Ou seja: vai rolar muito funk-samba-soul com tempero brasileiraço.
Paula sobe ao palco às 22h30, e o ingresso sai por R$ 30,00.
Bourbon Street – Rua dos Chanés, 127 – Fone (11) 5095-6100 –
www.bourbonstreet.com.br

Curta um pouco de Paula Lima cantando Só Tinha de Ser com Você (Tom Jobim – Aloysio de Oliveira)

Aê, cachorro louco!

Foto: Daniel Santini
Encomendei pro meu amigo Emerson Soares um artigo sobre esta crise dos moto-fretes, mas o cachorrão tá enrolando. Emerson conhece por dentro os problemas da categoria; é motoboy bissexto, mas muito aparelhado intelectualmente para revelar as várias faces deste assunto embaçado.
Minha parceria com Emerson Soares começou no tempo do boteco O Garajão. Ele promovia apresentações de Dirt Jump (manobras radicais com bicicletas em rampas de terra). Me convidou para fazer a cobertura de um campeonato lá na quebrada do Jardim Independência, no Embu das Artes em 2003. Foi um de meus melhores trabalhos.
Tempos depois, criei um espaço para ele como bike-repórter em um jornal de Taboão da Serra. O cara leva jeito pra coisa.
Atualmente Emerson está com a vida meio enrolada: moto pra pagar, serviço de motoboy com muita concorrência, cheio de pé-de-breque atravessando o serviço, o que leva o preço das entregas pra baixo do escapamento.
E ainda vem o Kassab atormentar os piôios com taxas e exigência de novos equipamentos.
Quando tudo estiver nos conformes, vai ser bom para o serviço de encomenda sobre duas rodas. A rapaziada que torce o cabo ganha merreca, a morte espera em cada centímetro quadrado de asfalto.
O motoqueiro vive num aperrêio que dá medo, e os caras ainda vêm querendo morder uma grana preta em licenciamento, placa, adesivo reflexivo, antena preventiva contra cerol, mata-cachorro, seguro obrigatório... Não dá pra enfiar tudo goela abaixo de uma vez. Por isto os motoqueiros estão neste fêrvo dos diabos.
Está faltando capacidade política pros caras da prefeitura. Não se mexe com uma categoria profissional sem abrir um diálogo preparatório.
O problema maior que estou vendo, é que a categoria é manipulada por várias correntes políticas. Há quatro grupos disputando a liderança.
O Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas fez grandes barulhos no mês passado. Chegou a mobilizar 750 motos em 18 de janeiro. Mas é um Sindicato sinistro. O ex-presidente foi tirado do cargo pelo Ministério Público, pois não prestava contas à categoria.
Já a manifestação de hoje, foi uma tremenda furada. A Força Sindical meteu o bedelho, e não conseguiu arrastar mais que 40 motoqueiros pelas avenidas de Sampa. A Polícia Militar até que estava mansa com os meninos. Descolou uma área pros motoqueiros estacionarem numa boa, durante o protesto em frente ao Banco Central, na Avenida Paulista. Mas o furdunço prometido foi um retumbante fiasco. Isto vai se refletir no moral da categoria para as próximas manifestações.
Foto: João Wainer

Novo “Salve” alvoroça a quebrada

Fuzil apreendido no Campo Limpo é igual ao exibido por Serra

Na madrugada de sexta-feira para sábado, despenquei o morro do Parque Marabá, e fui tomar umas (melhor dizer: várias) e outras no boteco fecha-nunca da Estrada do Campo Limpo.
Lá pela sexta garrafa – coisa entre duas e meia e três horas da madrugada -, vejo uns caras falando aos cochichos pelas beiras do balcão: “O bicho ta pegando lá na 37”.
Me transferi para outro estabelecimento, onde a crônica do submundo flui com menos tropeços. A Polícia havia acabado de prender Alex Nolasco de Oliveira, 19 anos, que estava com outro colega em um carro cinza, quando os PMS os acossaram. O que mais rendeu comentários naquele fim de noite foi o fato do rapaz ter sido preso com... um fuzil tipo 762, de fabricação belga. Arma de uso reservado.
Daí me lembrei que a PM também havia prendido no dia 1° de fevereiro um bando, em Presidente Venceslau e Presidente Epitácio, onde estão confinados os líderes do PCC. Na ocasião foram apreendidos coletes à prova de balas, capuzes e 3 fuzis – um deles com mira telescópica. O objetivo do bando, segundo o serviço secreto da PM, era seqüestrar agentes penitenciários ou seus parentes.
E certamente, o rapaz preso no Campo Limpo com um fuzil importado, não ia só assaltar pontos-de-ônibus.
É possível que este alvoroço todo seja porque os 645 comandantes do PCC querem sair do isolamento até a próxima 6ª-feira, 15 de fevereiro. Senão, vão deflagrar greve nas cadeias paulistas. A mensagem (denominada de “salve” pela organização criminosa) foi passada para um traficante preso em Lavínia. Dalí, ele espalhou o “salve” para outros presídios entre os dias 13 a 20 de janeiro.
Daqui a dois meses completa-se dois anos que o PCC impôs o clima de terror por várias horas, em todo o Estado de São Paulo.

Lobato e o presidente negro

Não entendi ainda porque não é relançado o livro O Presidente Negro, escrito por Monteiro Lobato em 1926. Neste seu raro texto para adultos, Lobato inventou uma eleição para presidente dos Estados Unidos no ano 2.228.
Há quem chame esta obra de ficção de livro profético. Nele, Lobato contava a disputa entre um candidato branco, outro candidato negro, e uma candidata branca. O livro foi publicado em folhetins no jornal A Manhã, do Rio de Janeiro.
No livro, o negro vencia a eleição. Ganhava mas não levava; morria antes de tomar posse.

Obama não me engana

Este Barack Hussein Obama não é nada do que estão pensando. Alguns dizem ser importante um negro no comando da maior potência da Terra.
Nada a ver. Se ganhar, Obama vai ser igual aos outros. 

Quer ver? 
Releia o que ele disse sobre o racismo nos Estados Unidos: "Não há um EUA branco e outro negro, e sim os Estados Unidos da América", declarou em um discurso durante a convenção nacional do partido democrata em Boston, em 2004.
Releia também o que diz o senador de nome muçulmano sobre invasões no Oriente Médio e Ásia: “Se for no interesse dos EUA, mandarei invadir o Paquistão quando for presidente”. A afirmação foi feita em um discurso sobre sua política internacional, e publicada em seu website. O texto foi produzido para um pronunciamento de Obama no Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington, em 1° de agosto de 2007.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Filho de peixe...

Na próxima 5ª-feira vou assistir o show do violonista Marcel Powell. Filho do meu idolatrado Baden Powell. (Veja na seção de vídeo, Marcel e seu pai na composição Interrogando, de João Pernambuco.)
Dizem que Marcel herdou do pai o domínio sobre o violão. Não é verdade. Baden foi e será sempre único, o maior violonista do planeta.
Mas levarei meu aplauso e meu abraço a este jovem talento das cordas brasileiras.
Marcel reprocessa com inteligência e sensibilidade a tradição violonística brasileira iniciada por mestres como Dilermano Reis, Garoto, João Pernambuco e universalizada por seu pai Baden Powell.
O repertório inclui seu último CD Aperto de Mão, passando pelo samba, choro, frevo e clássicos do jazz e músicas como Último Desejo (Noel Rosa), Desenho de Giz (João Bosco e Abel Silva), Essa Maré (Ivan Lins e Ronaldo M. Souza) e Round’bout midnight do pianista Thelonious Monk.
SESC Pinheiros - Duração: 1h20. Auditório - 3º andar (capacidade para 100 pessoas). Não é permitida a entrada após o início do espetáculo.
Ingressos: R$ 12,00 [inteira]
R$ 6,00 [usuário matriculado no SESC e dependentes]
R$ 3,00 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]
Rua Paes Leme, 195. Tel. 3095-9400

Samba em feitio de oração

“Assim como na igreja estamos reunidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, aqui estamos reunidos Em Nome do Samba


Este é o conjunto formado em 15 de novembro de 1997, por amigos de infância da região de Itaquera (COHAB II) zona leste de São Paulo. São jovens com idade média de 25 anos, que cresceram com a influência da música em suas vidas, especificamente o Samba.
Desde o início o conjunto passa por diversas evoluções, como o amadurecimento de seu repertório, musicalidade, e também a mudança de nome.
O grupo nasceu com o nome Livre Expressão. Depois foi rebatizado para Em Nome do Samba. O título, criado por Tiago Trombini, tem a intenção de explicitar a linhagem musical do conjunto.
Apesar da pouca idade dos componentes, o conjunto se mantém fiel ao verdadeiro Samba, inspirado nas grandes obras dos compositores: Paulinho da Viola, Zé Kéti, Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, João Nogueira, Candeia, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Nei Lopes, Ataufo Alves, Ismael Silva, Moreira da Silva, Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Geraldo Filme, entre outros, além de composições próprias.



Tiago Trombini – Cavaquinhista, cantor, oompositor, 24 anos. Sempre esteve ligado à música, incentivado por seus pais formava dupla com seu irmão Diogo. Começou a tocar cavaquinho aos 14 anos, época da formação do conjunto em que foi um dos idealizadores.






Maikel Almeida – 24 anos, compositor e músico. Desde seus 6 anos de idade seu pai que também foi músico de banda, viu que ele tinha aptidão para a música ao vê-lo tirar uma música sozinho de um teclado.
Aos 14 anos de idade conheceu um grande companheiro, o violão, passando depois para o violão de 7cordas.





Diogo Batista – Violonista e vocal, 27 anos. Músico admirador do samba tradicional, tocando violão desde os seus 20 anos. Quando criança adorava músicas sertanejas, sempre no estilo antigo o que ajudou a tocar samba na mesma linhagem.
Hoje tem como ídolo o saudoso Cartola, quem para todos os integrantes é o grande responsável pela paixão pelo samba.




Jackson Pereira – 22 anos, ritmista. Herdou sua paixão pelo samba de seu pai Vinicius Pereira ouvindo com ele seus LPs (que ia de Partido em 5 a Cartola).
Quando tinha por volta de 10 anos de idade, começou a aprimorar seus dotes musicais começando como muitos em instrumentos feitos do dia-a-dia como baldes e panelas. Hoje musico profissional é responsável pela parte rítmica do conjunto.



Heber Camilo – 28 anos, foi um dos idealizadores do conjunto. Começou incentivado pelos chamados “sambas dos anos 80”, mas não demorou muito tempo para encontrar a verdadeira essência do samba, que é o que realmente ama e tenta difundir ainda mais para todos. Seu instrumento é o pandeiro.



Contatos para shows:
6205-0837 - 9808-3697 (Diogo ou Tiago)
6523-5230 - 7104-5824 ( Heber)
Fotos: Luciano de Paula, no Refúgio do Sambista e Teatro São Pedro (SP)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Viaji boa

Tula Pilar

Vou me embora com vosmecê, moço bunito de muita formusura
Conhecì em Miracatu, cidade dos poeta.
Almocemo num casebre na beira do rio São Lourenço, comendo comida boa.
Adispois, falemo de coisa do momento, prozeemo sobre coisa do coração.
O moço segurou minha mão, oiô no fundo dos meu zóio pra modi mi dizê:
"Êta crioula bunita!, não venha mi dizê,
que dispois de tudo que lhe ofereci,
vosmecê vorta pra Sum Paulo. Aquela cidade é agitada dimais!
Bora mais eu, vivê no meio da mata,
tenho uns alquerizinho de terra, pirtim, mas bem pirtim de Juquia,
Dá pra nóis roçá, prantá uns pé de laranjeira
No meio de umas bananeira que já tem por lá.
Se lembra lá em Santa Rita e antes em Barnabés?
Nois nademo no Rio Juquia que atravessa Juquitiba,
Onde enchemo a barriga e a dispois tomemo café.
Antes passemo em São Lourenço onde comprei um lenço bordado procê. Fomo em Itapecerica da Serra, dancemo forró di pé di serra no sítio do seu Mané.
Entrei nas mata do Embu, procurei guatambu
Pra mode fazer nosso roçado.
Encontrei não, minha frôr!
Ofereço meu amor: sei qui é em Taboão qui está seu coração.
Taboão da Serra, município em evolução, cuidando do cidadão!
Bora tomar cerveja na latinha, caminhar bem divagarim
Na beira do ribeirão, com sór quenti na cabeça da gente.
Vou me embora com vosmecê!”


A poetisa Tula Pilar participou da primeira etapa da Expedición Donde Miras, no trajeto entre Taboão da Serra e Curitiba. Neste período de 5 de janeiro a 4 de fevereiro, Tula compôs vários poemas e crônicas sobre a Caminhada Cultural pela América Latina.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Na terra de Dalton, o Vampiro de Curitiba

Expedición Donde Miras chega à Capital do Paraná neste Carnaval

A última vez que Binho e eu trocamos palavras foi na 3ª-feira, quando comentei a pesquisa sobre cidades violentas. Disse o poeta:
“Valeu David! Tomei um susto [com a notícia], mas depois aliviei, com [a leitura do comentário sobre] a pesquisa. Já estou teclando de Tunas [do Paraná]. Aqui o que vimos é pinus para toda obra. Chegaremos em Curitiba no Carnaval. Acho que iremos por Colombo, porque pegar a BR-116, tá fora de cogitação.
Um abraço, amigão.
Binho”


Neste instante quando escrevo, a Expedicións Donde Miras, tramada no Sarau do Binho, já deve ter feito sua entrada triunfal em Curitiba. É lá onde nasceu e mora o maior nome do conto brasileiro.
Falar do escritor Dalton Trevisan requer conversa longa, cheia de silêncios, capaz de varar noites e escurecer dias.
Como é Carnaval, poucos gatos pingados se aventuram aqui pelo Bar & Lanches Taboão – como se vê na pintura de Harry McCormick pendurada na nossa fachada. Estamos à vontade para penetrar no universo áspero e lírico do gênio da concisão.
Esqueci de pedir aos amigos e amigas da Caminhada Cultural pela América Latina, que me trouxessem uma foto da casa do Dalton Trevisan. Está feito aqui o pedido ao Binho e ao meu xará fotógrafo da aventura.
Escrevi “foto da casa” porque o homem é avesso a entrevistas, e foge feito demônio das câmeras. Só sei de uma entrevista dele à extinta revista Manchete em agosto de 1968. Mesmo assim, ele ironiza as dificuldades de quem o procura e não acha: "Não me acho pessoa difícil, tanto assim que esbarro diariamente comigo em todas as esquinas de Curitiba". Retratos do Vampiro de Curitiba, só à traição. Como a Donde Miras está se mostrando capaz de milagres, quem sabe...
Dalton vai completar 83 anos no próximo 14 de junho. É advogado e dono de uma fábrica de vidros. Em 1954 publicava seus contos em folhetos de papel jornal. Em 2001, voltou à mesma prática: lançou cinco livrinhos em produção artesanal, com ilustrações escolhidas por ele. São um pouco menores que os cordéis, e um tantinho maiores que os catecismos do Carlos Zéfiro. É um amigo de um amigo do escritor quem reproduz numa máquina xerox e os grampeia. O próprio autor distribui os exemplares. Toda a edição é enviada de presente a amigos e admiradores. Pelo correio.
Na escrita crua, direta e até violenta de Dalton Trevisan está todo o nosso cotidiano cheio de culpas, angústias e ressentimentos. O autor busca cada vez mais usar menos palavras. Tanto assim que agora não escreve contos: “são ministórias”, diz sobre suas tramas não raro contadas em duas ou uma linha.
Em 2003, dividiu com Bernardo Carvalho o maior prêmio literário do país — o 1º Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira — com o livro Pico na Veia.
O último livro dele que li foi Macho não Ganha Flor (2006), da Editora Record, por onde sai toda a sua obra, exceção da artesanal.

Petiscos daltonianos

Obrigação de boteco é ter uma boa petisqueira. Sirvo aqui pequenos aperitivos da obra deste homem colossal e inatingível. De tira-gosto, dois hai-kais:
a cigarra anuncia
o incêndio de uma rosa
vermelhíssima

no muro o caracol
se derrete nos rabiscos
da assinatura prateada
Nos contos de Dalton, o universo suburbano de Curitiba é dividido entre homens (que podem ser tigre ou touro), a mulher (donzela casadeira; esposa santa ou megera - que se vinga do marido pondo vidro moído no caldo do feijão). A descrição da decoração das casas não é menos ferina (folhas artificiais de avenca, o quadro da santa ceia, bibelôs de porcelana, o fio da lâmpada pontilhado por cocô de mosquito). O amanhecer de um puteiro – templo de iniciação do macho, rito de passagem obrigatório – é cruento (“Com a manhã, os homens se vão. A casa pestilenta de mil cigarros. Em cada canto boceja uma bandida”). O boteco, refúgio dos aflitos (“O único olho aceso na madrugada”).
Suas figuras de linguagem são as mais imprevisíveis (“Chorando, suando, tremendo, o coração tosse no joelho. Ele a beija da cabeça ao pé — mil asas de borboleta à flor da pele.”)
O corpo feminino (“Se não quer, por que exibe as graças em vez de esconder?”) é metaforizado com delícias (“Na pontinha da língua a mulher filtra o mel que embebeda o colibri e enraivece o vampiro”; “a palavra coxa uma laranja inteira na boca”; “Ah, o joelho... Redondinho de curva mais doce que o pêssego maduro”).
De saideira, uma de suas ministórias:
“Na porta da cozinha, joga a água suja da bacia. - Minha filha, foi Deus quem te matou!”

Na Trilha do Vampiro
Eis aí a foto aérea do lugar onde vive Dalton Trevisan, para facilitar o trabalho dos meus hermanos expedicionários. Seu lar/refúgio fica na esquina da Rua Ubaldino do Amaral com Rua Amintas de Barros; em frente ao Hospital Oswaldo Cruz - Alto da Glória. No coração de Curitiba.

Na foto abaixo, uma admiradora tenta em vão espiar alguma coisa na casa do escritor inexpugnável.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Libera a manguaça, dotô! - 1ª dose

Uma Medida Provisória e precária assinada pelo lula diz que está proibido vender bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais às margens de rodovias federais a partir de hoje.
Um juiz do Distrito Federal mandou lula ir se catar, e liberou o goró naquela unidade da federação.
O advogado do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília usa um argumento na dose certa. Uma pessoa pode se hospedar em hotel de beira de estrada, para seguir viagem no dia seguinte. Não pode tomar uma? E se eu chegar a um restaurante estradeiro e quiser regar meu rango com um vinho, tirar uma bela soneca a tarde toda, para seguir adiante só várias horas depois?
E as pessoas que moram perto de um posto de gasolina como o que existe ali, no Jardim Salete, ao lado da Delegacia Seccional de Taboão da Serra? Por quê não podem tomar suas brejas e quebra-gelos na churrascaria dali vendo a caminhãozada passar? Se o cara levar a mina dele no Motel Morumbi na beira da BR-116, vai ter de fazer um rala-e-rola sem birita? O meu drinque com os amigos na Padaria Auto-Estrada, no bairro Intercap, foi pras cucuias, só porque o lula quis?
O Governo Federal que se vire para fiscalizar os pés-de-chumbo pés-de-cana! Acidentes acontecem aos montes nas rodovias não só devido ao manguaceiros. Mais grave é o estado de esculhambação das nossas pistas federais.
E logo quem está escalada para vigiar esta lei-sêca-lulista: a Polícia Rodoviária Federal. Se você é motorista e conhece o que rola pela estrada afora, sabe bem o que estou pensando e não posso escrever.

O quintal cheio de caixões

Somente neste mês de janeiro, no Estado de São Paulo cerca de 20 pessoas tombaram em chacinas. Os números se alteram a cada madrugada. Teme-se um final-de-semana violento neste feriadão de Carnaval.
Nos primeiros 26 dias de 2007, o número de mortos em chacinas chegava a 27 pessoas. O ano passado fechou com 47 mortos em 12 chacinas.
Em face desta estatística macabra, nenhuma cidade brasileira superou Taboão da Serra na quantidade de assassinatos de uma só vez. A confirmação é da equipe de homicídios múltiplos do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Os propagandistas do atual governo municipal ufanista podem até dizer: “Nunca antes na história de Taboão, e nem depois por enquanto...”
Em uma noite nublada de junho de 1994, 12 pessoas e um bebê estavam em uma casa da Rua Anunciatta Ademário Gentile, no extremo sul da região do Pirajuçara, próximo ao limite com Embu. Um grupo de homens armados invadiu o local aos gritos de “mata tudo! mata tudo!”.
Até mesmo uma velhinha com mais de 60 anos que residia no pardieiro, foi fuzilada.
A criancinha foi deixada viva no gavetão de um guarda-roupas. O tráfico e o uso de drogas foi o motivo da carnificina.
Até hoje a vizinhança não gosta de falar na tragédia que deixou um quintal cheio de caixões de defuntos no alto do Jardim Santa Cruz.
Um dos presos acusados pela matança foi Fábio Mota dos Santos, vulgo Sadam, 26 anos, que se declarava mecânico. Ele estava preso em Cotia na última vez que tive informações do caso, em meados de 1997.
Este é mais um caso que será relembrado na nossa série sobre crimes que abalaram a cidade.