quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Baden no bairro boêmio: a "Manhã" durava uma noite inteira

Em 1962, estava tudo pronto para Baden Powell ir aos EUA, na sua primeira viagem fora do Brasil. No entanto, seu pai Lilo de Aquino, sapateiro e músico amador, adoeceu, e Baden desistiu de partir.
Quando o pai faleceu, Baden trocou a passagem Rio-New York pela Rio-Paris, por sugestão de seu recente parceiro Vinícius de Moraes.
Ele desembarcou na Cidade Luz com poucos dólares no bolso. Não tinha grandes contatos no meio artístico parisiense. Só tinha a cara, a coragem, e o violão debaixo do braço.
Foi ganhar a vida tocando em casas noturnas do Quartier Latin, bairro boêmio da capital francesa. Os bares e restaurantes lotavam para ver aquele moreno brasileiro tirar um som de seu violão como jamais haviam ouvido.
Certa noite, Baden estava conversando com seu amigo Pierre Barrouh: “Vou voltar pro Brasil”, disse Baden. “Não está gostando daqui? Vê toda esta gente? Eles fazem fila todas as noites pra te ouvir!!!”, retrucou Pierre. “Meu visto de permanência na França está acabando”, revelou Baden.
Pierre usou de todos os seus recursos como compositor, ator e cineasta, e arrumou para Baden fazer a primeira parte do show do cantor Jacques Brel, no refinado teatro Olympia de Paris. O público esperava só samba-carnaval daquele violão mulato. Mas entre os sons do Brasil também fluíram obras de Bach, Chopin e Ravel. O imenso violão de Baden combinava profunda base erudita com o balanço e a melodia de apelo popular, entremeado pelo alto poder de improvisação herdado do jazz e do chorinho. Na hora do bis, teve de voltar 8 vezes ao palco.
Aquela noite marcou o início de uma sólida convivência de Baden e a capital da França, onde ele viveu por 20 anos. Um de seus grandes sucessos na Europa era sua interpretação para Manhã de Carnaval, de seu amigo violonista Luiz Bonfá, em parceria com Antonio Maria, jornalista e poeta pernambucano radicado no Rio. Além de ser uma das mais belas canções produzida por um ser humano, Manhã de Carnaval ganhou dezenas de versões diferentes no violão de Baden. É um destes arranjos que você vai ver-ouvir no vídeo abaixo.

Antes de você iniciar a audição, vou te contar rapidinho como Baden e seu violão enfeitiçavam o público, em suas apresentações madrugada adentro.
A cada duas músicas, Baden tocava Manhã de Carnaval de um jeito diferente. Além de se extasiar com as novas canções exibidas, o ouvinte ficava curioso para conhecer o novo arranjo para aquela mesma magnífica canção.

Manhã de Carnaval

Pessoas fortemente armadas

Se você estiver hoje à noite pela Rua Siqueira Bueno, no bairro do Brás, preste atenção!
Um bando de descarnavalizados vai invadir o Refúgio do Sambista, fortemente armado de violões, cavacos, percussões, sopros, e vários outros artefatos pesados, utilizados na guerra da resistência cultural brasileira.
O lubrificante destes equipamentos de combate será um composto à base de cevada, água, malte e lúpulo. Haverá também alguns aditivos destilados, para desengripar o peito.
Um dos organizadores do Refúgio do Sambista é bem preciso na sua perspectiva para esta noite: "Tudo pode acontecer", diz Ary Marcos.
Compareça!!
Refúgio do Sambista
Rua Siqueira Bueno,136 - Belém
(a dois quarteirões do Metrô Belém)
Fone: 6698-5889

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

“Donde Miras” mergulha no foco da violência (?)

As duas ou três pessoas que freqüentam diariamente nosso Bar & Lanches Taboão vão levar um susto hoje, ao conhecerem o último levantamento sobre cidades violentas do Brasil.
A cidade de Tunas do Paraná (PR) aparece entre os 10 maiores focos de homicídios do País. O levantamento é dos ministérios da Saúde e da Justiça.
Aí você tem um estalo: “Tunas do Paraná? Onde foi que ví este nome?”. Corre para a internet, abre o blog da Expedición Donde Miras, e o pânico é total. O município de Tunas do Paraná está no roteiro da Caminhada Cultural pela América Latina, inspirada pelo Sarau do Binho.
Pelos cálculos feitos aqui em cima do nosso balcão, os artistas expedicionários estão cruzando aquele território justamente nesta 3ª-feira, 29 de janeiro, data da publicação do ranking da violência nacional.
Mas... como diz aquela ministra:
- Relaxa, baby!
Tunas do Paraná é uma prova de como as estatísticas são curiosas. O mapa da violência é feito na proporção do número de homicídios com o número de habitantes.
A cidade tem cerca de 5.200 moradores. Sabe quantas pessoas morreram lá em 2006 (ano-base para o levantamento)? Duas. Comparada ao número de tunenses, a taxa de mortes vai lá pras alturas.

Tocando em frente

Passado o susto provocado pelos caprichos da Matemática, vamos ver o que Tunas do Paraná oferece além do cemitério, que no penúltimo ano recebeu só dois novos inquilinos.
Quando eu passava com meu pai (caminhoneiro) por este lugar na década de 1970, a cidade se chamava Pedra Preta. A gente passava por lá na época, porque a BR-116 estava interditada. O guerrilheiro Carlos Lamarca dava um baile no Exército. O foco da guerrilha estava às margens do Rio Ribeira de Iguape. O tráfego era desviado da BR-116 para a Estrada Velha São Paulo/Curitiba, ou Estrada da Ribeira.
Tunas do Paraná era chamada Pedra Preta devido à grande quantidade ali existente de uma rocha de origem vulcânica de cor escura. Há milênios houve um vulcão nervoso naquela localidade situada a 906m acima do nível do mar.
O município ficou independente de Bocaiúva do Sul no ano 2000. O atual nome de Tunas é derivado de uma planta do tipo cactus muito encontrada por ali. Hoje Tunas é administrada pela prefeita Nalinez Zanon, que é médica ginecologista. A economia dominante do lugar são a indústria madeireira e a extração de minério. Lá também fica o Parque Estadual Campinhos, com belas matas, montanhas e grutas.
Esta é a ante-penúltima escala da Expedición Donde Miras, antes de pisar na cidade de Curitiba – a Capital do Paraná está 87km à frente do atual estágio da caminhada. Bocaiúva do Sul e Campina Grande do Sul são as próximas cidades onde os poetas e músicos de Campo Limpo/Taboão vão trocar arte e energia com o povo do lugar.

Vista aérea de Tunas do Paraná

sábado, 26 de janeiro de 2008

Crimes que abalaram a cidade

No próximo mês de fevereiro, completa-se um ano do assassinato da menina Tauane Oliveira Padilha, de 4 anos. Ela foi esfaqueada e esquartejada por Pablo Santos Teixeira. Depois de picar o corpo da criança, Pablo colocou os pedaços do cadáver em um balde.
Ele foi preso no dia seguinte ao crime. Segundo informações de um dos membros da família da vítima, o assassino teria sido justiçado por detentos do "cadeião". Vamos apurar este dado.
Esta nova seção do blog relembrará os crimes que abalaram Taboão da Serra.

Cachorrada capitalista

A crise imobiliária nos EUA está causando o surgimento de milhões de cães abandonados por seus donos. Estes por sua vez foram abandonados pelo esquema capitalista. As hipotecas engoliram seus lares.
De janeiro a novembro de 2007, dois milhões de famílias tiveram de devolver suas casas aos banqueiros – um aumento de 73% em relação a 2006.
Toda semana, de 15 a 20 famílias tentam confiar seus cães e gatos a abrigos. Mas estão todos lotados. Por isto, largam seus bichinhos de estimação nas ruas. Ou dentro das casas desertas retomadas pela Justiça. “Resgatamos bichos trancados até em armários”, conta Stephanie Shain, da associação protetora dos animais nos EUA. As pessoas confessam que os trancafiam, pois eles se desesperam para acompanhar seus ex-donos no futuro incerto. A maioria dos animais é encontrada já morta pela fome.
O padecimentos dos animais no longo tempo que levam para morrer, é testemunhado pelas marcas de garras e mordidas em portas e janelas das casas onde ficam encerrados. “Eles tentam sobreviver comendo revestimentos dos móveis, tapetes, telas de quadros”, constata Terri Sparks, porta-voz do maior abrigo de Chicago, a Animal Welfare League.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sabedoria de Vida: 15 anos na estrada

P.A. (à esquerda) e Jairo, do Periafricania
Recebi há poucos minutos o telefonema do rapper P.A. do grupo Sabedoria de Vida. Foi uma das ligações mais importantes deste começo de ano aqui para o Bar & Lanches Taboão.
Um dos mais veteranos no rap da Grande São Paulo, o conjunto vai festejar 15 anos no próximo mês de março.
P.A. está na batalha para definir o local do evento. O mais lógico seria o Teatro Cemur, já que a banda nasceu e se fortaleceu em Taboão da Serra, mais precisamente no Parque Jacarandá, bairro periférico no limite com o município do Embu.
A agenda do Cemur e do Ginásio de Esportes é um daqueles mistérios que a gente conhece, mas não convém revelar, para não prejudicar quem sangra para conseguir autorização de uso nestes dois espaços públicos.
As duas ou três pessoas que freqüentam nosso blog torcem para que eles consigam, por questões de segurança e conforto à sua legião de fãs.
O Sabedoria de Vida surgiu em 1993, por iniciativa do MC Preto Jota, e do DJ Araponga.
Naquele ano, a banda Racionais MCs lançava seu terceiro álbum. O rap brasileiro experimentava sua grande fervura. O movimento nasceu no início da década de 1980 por iniciativa de grupos de negros que se reuniam na Galeria da Rua 24 de Maio, na estação São Bento do Metrô, e posteriormente na Praça Roosevelt. A primeira coletânea do rap brasileiro (Hip Hop Cultura de Rua) foi lançada em 1988.
O primeiro CD do Sabedoria (Coisas da Vida) foi lançado em 31 de fevereiro de 2004, com grande festa no Centro Cultural Pirajuçara. As 14 faixas do disco têm participações importantes como Mano Brown, o poeta Sérgio Vaz, Z’África Brasil, entre outros bem cotados.
Por sacanagem do destino, exatamente um ano depois, em 20 de fevereiro de 2005, Preto Jota foi executado a tiros em Taboão da Serra. Com apenas 26 anos, morreu simplesmente porque pegava carona na moto do alvo dos matadores.
O grupo tem uma ingrata convivência com a violência urbana, que eles tanto combatem em suas letras. O rapper Jhay, que integrou uma das várias formações do grupo nesta década e meia, foi morto dia 02 de agosto de 2000, vítima de um assalto. Depois, eles perderiam também assassinados Beto e Paraíba, membros da produção da banda.
Só mesmo com muita sabedoria de vida para não se abater perante tantas baixas no percurso, e tanto sacrifício para arrumar um lugar onde comemorar mais um ano de ritmo e poesia...

Uma lágrima para Lula...

Sapatos - Vincent van Gogh (1987)
Na tarde de 3ª-feira, eu passava pelo caixa de um supermercado próximo de casa, e percebi que a operadora estava com os olhos marejados.
"Deve estar com problema pessoal", foi minha primeira dedução. Enquanto somava os valores, a moça do caixa rompeu o silêncio:
- Você trabalha na Prefeitura?
- Trabalhei – respondi.
- Você era o melhor amigo do meu irmão...
- ???

- Todas as vezes que você vem aqui no mercado, eu lembro do meu irmão...
- !!!
- Sou irmã do Luiz Carlos.
- !?!?
- O Lula sapateiro...
Minha ficha caiu acompanhada de lágrimas.
Comoveu-me mais a revelação, do que a lembrança daquele amigo que o diabetes matou.
Lula e eu varávamos madrugadas no balcão da Pizzaria Flor do Pirajú. Morávamos perto daquele balcão onde trocamos algumas confidências e milhares de desaforos. 

Quando findava o horário dos ônibus, a caminhada para casa não era longa. 
Se chovia, o dono da pizzaria, Geraldo Dias Vieira, deixava-nos pendurar as bebidas para pagar o táxi.
Eu só não sabia que o sapateiro Lula, nas reuniões de sua família, dizia que eu era seu melhor amigo. Os favores que nos fazíamos não eram lá grandes coisas, para justificar tamanha afeição. 

Tive o prazer de intermediar um emprego público para uma das irmãs dele; mas isto, para colegas de copo e de cruz, é obrigação.
Só não cumpri o compromisso de fazer uma bela reportagem sobre o pai dele. Seo Roque foi chefe dos carpinteiros na construção da Assembléia Legislativa de São Paulo. “Faz a matéria do velho, pôrra! Vai-se saber até quando ele dura!”, repetia Lula noites a fim.
Nos seus últimos meses de vida, Lula transferiu sua sapataria (que antes ficava no coração comercial do Pirajuçara) para um salão na casa da irmã que encontrei operando o caixa do supermercado. Algumas vezes fui visitá-lo. Ele já não podia beber, já não tinha muito ânimo para longos e pesados bate-papos. Mas o carinho de amigos nos envolvia ali, na ladeira do Jardim Record.


Saí do supermercado sem saber o que dizer para a irmã do meu pranteado amigo. É muito difícil você saber, post-mortem, que você significou algo na vida de uma pessoa.
Quantas lágrimas me custaram aquele meu irmão que já se foi.
Sapateiros - quadro belga sem indicação de data e autor

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Que vacilo, hein Matilde?

Uma pessoa daquelas que vêm “de baixo”, criada na periferia, filha de trabalhadores humildes, tem de se mancar quando chega no topo de um cargo público.
Como dizia Cícero: “à mulher de César não basta ser honesta; tem de parecer honesta”. Entenda-se aqui por “mulher de César” toda mulher em cargo pago pelo povo.
Essa pessoa tem de esfregar na cara dos corruptos e da classe dominante, que é possível exercer o comando da sociedade sem falcatruas nem esbanjamento do suado dinheiro do contribuinte.
E o que fez Matilde Ribeiro, 48 anos, paulista do interior, com infância e adolescência passadas nos subúrbios da Grande Sampa? Desde março de 2003 no cargo com o pomposo nome de ministra-chefe da Secretaria Especial para Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil, descobre-se agora que a afoita balzaquiana gastou no ano passado R$ 171.500,00 com despesas pessoais pagas pelo dinheiro da República.
Calmaí!!! Você não bebeu demais, não! Leste certo: a dona Matilde gastou em média R$ 469,86 por dia em 2007.
Fez até compra em free-shop e usou o cartão de crédito pago pelo Governo Federal.
Antes de nomeada ministra de lula, Matilde foi assistente-social. E sabe que neste País, andar de táxi é quase luxo. Mas a nova-madame só usava carro alugado.
Solteirona, enfiou noite afora o seu cartão de crédito oficial em maquininhas de bares noturnos, e padarias de alto padrão.
Vejamos a prestação de contas da moça:
126.000 reais - aluguel de carros
35.700 reais - hotéis e resorts
4.500 reais - bares, restaurantes, padaria
460 reais - free shop
4.800 reais - despesas diversas (?)

O hotel preferido de Matilde foi o Pestana, cinco estrelas na praia de Copacabana, onde hospedou-se 22 vezes em um ano.
Para comer ou beber no Rio, Matilde só vai ao Nova Capela ou no afamado (e caro) Bar Amarelinho.
Se está em São Paulo, ela não vai a lanchonetes de Osasco, onde viveu quando criança, nem a pizzarias ou padocas da zona leste, onde curtiu a juventude. Matilde abriga-se à noite na badalada padaria Bella Paulista, aberta 24 horas na região dos barzinhos das ruas Bela Cintra e Augusta.
A hora do rango é o único horário em que Matilde mostra alguma eficiência em igualdade racial: passou 21 vezes o cartão do governo em restaurantes árabes, japoneses, italianos...
Além dos R$ 171 mil que torrou consigo mesma ou talvez com colegas em pernoites, refeições e noitadas, Matilde ainda leva para casa o salário mensal de R$ 10.400,00.

Isto nos lembra a mancada de outra ministra de lula, também filha das classes oprimidas e que viajou na maionese, quando no poder.
Benedita da Silva, ex-ministra da Ação Social, usou dinheiro público para um compromisso pessoal na capital da Argentina.
O Diário Oficial da União apontava que numa 4ª-feira, 24 de setembro de 2003, Benedita estava agendada para um café da manhã com crentes da Assembléia de Deus em Buenos Aires. Ela hospedou-se no Hotel Alvear (diária a R$ 1.200,00 e cafezinho a R$ 5,86) no requintado bairro La Recoleta. O PT tentou enrolar a opinião pública, dizendo que Benedita tinha ido a uma audiência com a ministra do Desenvolvimento Social. Mentira.
A esbórnia com o dinheiro público virou até escândalo político. Benedita ajoelhou-se no culto ao lado de Martines de Hoz, ex-ministro do general Rafael Videla, assassino de opositores à ditadura militar argentina.
Depois de ser vaiada até em um show de Paulinho da Viola, Benedita foi obrigada a deixar o cargo.

Matilde e Benedita não tinham o direito de fazer este papelão, diante de todo sangue, suor e lágrimas dos negros na luta pela igualdade de oportunidades aos afro-descendentes no acesso a postos relevantes na sociedade brasileira.

A parte pobre de New York, nas telas dos Oito

No início dos anos 1900, surgiu nos Estados Unidos um grupo de pintores rompidos com o bom-mocismo da época.
As cidades norte-americanas estavam em plena explosão de desenvolvimento - se entupiam de fábricas, escritórios e todo o tipo de comércio. E as pessoas que trabalhavam nestes locais, certamente não habitavam os lugares “bonitos”. Foi para mostrar como vivia esta gente humilde, que um pequeno grupo de artistas mudou o alvo de suas telas de pintura.
Conhecidos como o Grupo dos Oito, levaram suas tintas e seus pincéis para as ruas transversais, mergulharam em becos e vielas da periferia. Mostraram o lado escuro das cidades, mas também retrataram toda a vitalidade que brotava daqueles subúrbios sofridos.
A primeira exposição destes trabalhos foi realizada em 1908 – daí o nome do grupo, reforçado pelo fato de serem também oito homens.
Deste grupo fazia parte o pintor John Sloan.
Das telas de John Sloan, emergem os subúrbios com tudo o que eles têm de áspero e macio, sombrio e jubilante. “Para mim, a cidade é uma tela cosmopolita, cujo espectro muda a cada rua lateral”, dizia o pintor. “A periferia pode ser sórdida ou feliz, triste ou humana, depende do que você quer fazer nela ou dela”.
Assim é que ele perenizou pela Arte uma singela mãe de família a estender roupas sobre a laje de sua casa fustigada pelo sol e pelo vento (pintura de 1915); pintou em 1906 a pujança de uma estação de metrô na correria das seis horas da tarde (click sobre as telas para ampliar).
John French Sloan nasceu em 2 de agosto de 1871, na Pennsylvania. Seu pai era comerciante, e sua mãe, professora. Seu primeiro emprego foi como ilustrador de jornal. Fez curso noturno na Academia de Belas Artes da Filadélfia. Ali encontrou o mestre Robert Henri, inspirador do Grupo dos Oito.
Nos seus últimos anos de vida, John Sloan passou os verões pintando em Massachussets, e em Santa Fé, no Novo México.
Durante o tempo em que viveu em Nova York, Sloan gostava de freqüentar o McSorley’s Bar, que pintou em 1912.
Este boteco funciona até hoje; é o mais antigo de Nova York. Ainda mantém o chão coberto de feno, como há 154 anos. 
Diariamente vende centenas de litros de cerveja clara ou escura, ambas na pressão e fabricadas pela própria casa.O McSorley's Old Ale House foi aberto pelo irlandês John McSorley em 1854. Na época, havia 2.400 bares em Nova York. O patriarca McSorley morreu em 1910, aos 87 anos. Em seu lugar ficou seu filho Bill, que vendeu a propriedade em 1936. De lá para cá, a casa teve sucessivos donos, mas todos irlandeses ou descendentes.
Somente em 1970 foi permitida a entrada de mulheres no McSorley’s Bar. E mesmo assim, depois da decisão da Suprema Corte.
O famoso boteco fica na Sétima Avenida. Por suas mesas e balcões já passaram trabalhadores de baixa renda, empresários, mendigos, professoras, prostitutas. E também ladrões e candidatos a cargos políticos, o que dá no mesmo...
O maior patrimônio do MacSorley’s Bar é a sua história. E as histórias de seus fregueses. Antes de partirem para a luta na Guerra Civil Americana (1861-1865) os soldados bebiam ali, e deixavam pendurado um bracelete a ser removido por eles mesmos no regresso. Muitos não voltaram, e os braceletes estão ali até hoje, pendurados no lustre, sem ninguém jamais ter tocado neles.

Empresária de Taboão concorre a prêmio da ONU

Paola (esq) e o marido com funcionários da Rotovic

A empresária Paola Barcellos Tucunduva, dona da lavanderia industrial Rotovic, instalada no Parque Industrial São Judas, em Taboão da Serra, foi selecionada pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) para o 'Women Business Award 2008' (Prêmio Mulheres nos Negócios).
Paola vai concorrer com nove mulheres de outros países. Esta será a primeira entrega deste Prêmio das Nações Unidas. A divulgação da vencedora será em evento na cidade de Accra (Gana) de 20 a 25 de abril próximo.
Paola e seu marido Roberto compraram a lavanderia do pai dela. A Rotovic iniciou suas atividades no bairro do Morumbi, em 1968. Em março de 2000, transferiu-se para Taboão da Serra. Em 2001, a convite da Ford, para quem presta serviços, a Rotovic abriu uma unidade em Camaçari (BA). A lavanderia também atende a General Motors e vários fabricantes de auto-peças.
Em 2004, um forte incêndio destruiu totalmente a lavanderia, que ficou nove meses parada. Naquele mesmo ano, Paola e Roberto deram a volta por cima, e abriram mais uma filial em Americana (SP).
Para 2008, o casal vai investir R$ 1,4 milhão em novos equipamentos.
Além da expectativa com o prêmio da ONU, Paola vive as emoções dos primeiros passos de seu filho Mathias Tucunduva em sua carreira no cinema. Mathias faz o papel de filho de Orlando (vivido por Alexandre Borges) no curta-metragem Rua Javari, sobre um fanático torcedor do Juventus.
Em meio a essa correria, Paola também achou tempo para debutar como blogueira, com duas páginas pessoais inauguradas em 6 de junho de 2007.
Assista ao vídeo da Globo sobre o empenho da lavanderia Rotovic na luta ambiental:

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM777686-7823-LAVANDERIA+SE+DESTACA+NA+LUTA+AMBIENTAL,00.html

sábado, 19 de janeiro de 2008

¼ de século sem o Anjo das Pernas Tortas

Para Marco Pezão Iadocicco
Domingo ainda nem chegou, e eu já estou chorando antecipado. Dia 20 de janeiro completará 25 anos da morte de Mané Garrincha, o mais imprevisível e criativo jogador do Brasil em todos os tempos.
Manoel Francisco dos Santos era tanto, que a ele não cabia apenas um apelido de Mané Garrincha. O genial Camisa 7 foi eternizado pela voz da gente humilde das ruas com os títulos de Alegria do Povo e o Anjo das Pernas Tortas.
Sua vida foi inteira mergulhada nas polêmicas e nos porres. Nem mesmo depois de morto Garrincha deixou de entortar a lógica. O jornalista Ruy Castro escreveu-lhe a mais bela biografia (A Estrela Solitária) mas as filhas do seo Mané implicaram com o livro, porque o escritor citava o pênis avantajado do pai. A Prefeitura de Pau Grande, cidade onde ele nasceu, construiu-lhe um mausoléu de 20m de altura, mas a tia de Garrincha não permite que retirem seus restos mortais de um cemitério em Magé. O Botafogo, time onde Mané se imortalizou, quer levar sua estátua para o novo Estádio João Havelange. Mas a família quer que ela permaneça no Maracanã.
Você que só conhece Mané Garrincha por ouvir falar, chegou sua hora de levantar-se da ignorância. Conheça a vida e a arte de um brasileiro incomparável, digno de teses de doutorado e estudos acadêmicos e leigos.
No vídeo abaixo, imagens dos dribles desconcertantes de Mané – pra ele, todo jogador adversário era chamado de João. O texto é do magistral Nelson Rodrigues. Repare que o desempenho infernal do jogador frente aos oponentes enlouquecia de júbilo até mesmo os soldados escalados para a segurança dos estádios.
No outro vídeo, ouça a canção composta por Alberto Luiz, enorme sucesso na voz de Moacyr Franco em 1970, em homenagem ao impossível Mané. Garrincha morreu aos 50 anos, pobre e desamparado.

Garrincha, Alegria do Povo

Balada N° 7

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Informativo da Expedición Donde Miras

Acaba de chegar aqui no nosso boteco uma mensagem da poetisa Tula Pilar, sobre o atual estágio da Caminhada Cultural pela América Latina, inspirada pelo Sarau do Binho:

"Olá povo maravilhoso!
Já estamos a mais de 200kms de São Paulo.
A coisa aqui está maravilha, meus olhos vêem paisagens que me recuso a acreditar que existem.
Conhecemos poetas interesantíssimos nos saraus feitos geralmente nas praças.
Já até homenageei um deles, o Julio , de Miracatu, com uma poesia linda.
Declamarei nos saraus quando voltar.
Ontem caminhamos 30kms.
Foi bem puxado.
Hoje estamos descansando e interagindo com o povo de Eldorado. Faremos o sarau na praça à noite.
Amanhã teremos 40kms até Andre Lopes.
Ainda estamos discutindo como faremos; o trajeto terá que ser dividido em duas etapas.
Parece que o poeta Mavot Sirc (Cristovam) está chegando hoje à tarde pra nos acompanhar.
Mais uma vez, peço que torçam por nós.
Já estamos chegando a Curitiba!

Abraço a todos,

Tula Pilar

Ah! O Gison, marido da Glicia, também está na caminhada desde ontem."

A igreja matriz e dois espaços públicos do centro da cidade de Eldorado (14 mil habitantes e 140km da Capital) , onde haverá o Sarau do Binho hoje à noite .

ECRO reconta histórias dos subúrbios

O grupo Z'África Brasil tem integrantes de Taboão da Serra, e está na trilha sonora de Capão Redondo - Sintonia da Quebrada

O tema de janeiro do Espaço Cultural Resistência e Ousadia é a memória que os bairros guardam de sua própria história.
O ciclo de documentários começa neste sábado, 19 de janeiro, e vai até 26 de janeiro.
Com exceção do último filme da mostra, dirigido por Gregório Bacic e com foco em Taboão da Serra, as demais obras são sobre bairros paulistanos.
Estes curta-metragens foram originalmente produzidos para a Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, e exibidos no Cine Olido, no centro de Sampa, entre agosto e setembro do ano passado.
19 de janeiro – 18h30
1. Partido Mooca (2006,26min) – Direção: Jurandir Muller
Trajetória do bairro mais antigo de São Paulo, fundado em 1955, que também foi palco da primeira greve de trabalhadores no Brasil. Nos depoimentos se percebe o amor que os moradores têm pelas tradições da comunidade.

2. Capão Redondo- Sintonia da Quebrada (2006,26min) – Direção: Camilo Tavares
História do bairro que se transformou num dos mais populosos de São Paulo. Poesia, direitos humanos, ditadura militar, mutirão de moradia, quilombos, hip hop, e cordel são os ingredientes deste filme. Música dos grupos: Samba da Vela e Z´Africa Brasil.

ECRO- Espaço Cultural Resistência e Ousadia
Av. dr. José Maciel, 584 – Jd Maria Rosa
Taboão da Serra – Fone: 4771-6806

O alemão que compunha marcha-rancho

O violonista Baden Powell e o poeta Vinícius de Moraes se conheceram em 1962, em um boteco do Rio de Janeiro. Não começaram compor logo nos primeiros encontros. Passavam noites afora conversando, como a medirem-se.
E, logicamente, consumiam quantidades industriais de whisky.
Numa destas madrugadas, Vinícius chega para Baden, e conta-lhe que fez uma letra para a Cantata 147, a famosa Jesus Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach.
- Rapaz, ficou uma marcha-rancho muito bonitinha! – confessou Vinícius.
- Como é? Marcha-rancho em música de Bach? – estranhou Baden.
O mago do violão olhou para o copo na mão do poeta, e ao ver uma garrafa pela metade ao lado de outra já vazia, resolveu não mais debater com o colega.
- Achei sinceramente que ele estava com o juízo alterado pela bebida – contou Baden, em um show dele que fui assistir no Teatro Mambembe, na avenida Domingos de Moraes, no ano de 1990. – Mas quando ouvi a gravação pronta – prossegue Baden – vi que realmente Vinícius tinha captado um balanço naquele compositor clássico que cabia direitinho na marcha-rancho.

Infelizmente não tenho como postar por enquanto a interpretação do Baden Powell para esta cantata.
Mas você encontra várias versões dela em muitos sites. Siga a melodia, e cante com a letra do Vinícius:

Rancho das Flores

Vinícius de Moraes

Entre as prendas com que a natureza

Alegrou este mundo onde há tanta tristeza

A beleza das flores realça em primeiro lugar

É um milagre do aroma florido

Mais lindo que todas as graças do céu

E até mesmo do mar

Olhem bem para a rosa

Não há mais formosa

É flor dos amantes

É rosa-mulher

Que em perfume e em nobreza

Vem antes do cravo,

E do lírio, e da hortência,

E da dália, e do bom crisântemo,

E até mesmo do puro e gentil malmequer

E reparem no cravo o escravo da rosa

Que é flor mais cheirosa

De enfeite sutil

E no lírio que causa o delírio da rosa

O martírio da alma da rosa

Que é a flor mais vaidosa e mais prosa

Entre as flores do nosso Brasil

Abram alas pra dália garbosa

Da cor mais vistosa

Do grande jardim da existência das flores

Tão cheias de cores gentis

E também para a
hortência inocente

A flor mais contente

No azul do seu corpo macio e feliz

Satisfeita da vida

Vem a margarida

Que é a flor preferida dos que têm paixão

E agora é a vez da papoula vermelha

A que dá tanto mel pras abelhas

E alegra este mundo tão triste

No amor que é o meu coração


E agora que temos o bom crisântemo

Seu nome cantemos em verso e em prosa

Porém que não tem a beleza da rosa

Que uma rosa não é só uma flor

Uma rosa é uma rosa, é uma rosa

É a mulher rescendendo de amor

Vinícius: com um pé na Europa

O jornal Diário de Notícias, de Lisboa, antecipou em sua edição de ontem o interesse do clube Benfica em contratar o atacante Vinícius, que atuou pelo Clube Atlético Taboão da Serra na Copa São Paulo de Juniores. O jogador mora na periferia da cidade de Osasco.
Vinícius foi a sensação da primeira fase da Copinha: em quatro jogos marcou 8 gols, assumindo a artilharia da competição. Já na estréia da segunda fase, Vinícius estava suspenso por dois cartões amarelos, e o Taboão da Serra naufragou diante do Rio Branco, de Americana (SP).
O primeiro clube de Vinícius foi o Pequeninos do Jockey. Por ser de família de baixíssima renda, o clube assumiu todas as despesas de viagens do atleta, nas vezes em que excursionou pela Europa.
Agora Vinícius tem sólidas chances de fixar-se no futebol europeu. Além dos times portugueses Benfica e Sporting, também há sondagens de equipes da Espanha, Itália e Inglaterra.
O jornal português aventou que Vinícius, 17 anos, 1,70m e 68kg, esteja valendo 8 milhões de dólares (cerca de R$ 14 milhões).

O taboanense Tiuí pousa em Portugal

Rodrigo Bonifácio da Rocha, o Tiuí, nasceu em 4 de dezembro de 1985, em um bairro de assentamento na periferia de Taboão da Serra.
Rodrigo Tiuí (ex-Santos e ex-Fluminense) se apresentou na noite da 4ª-feira, 16 de janeiro, ao clube Sporting, de Portugal.
O time português pagou 650 mil euros (cerca de 1,7 milhão) por metade do passe do atacante. A outra metade pertence ao clube Rentistas, do Uruguais.
A palavra tiuí é o nome paraguaio do pássaro bem-te-ví.

Corredora de Taboão é 2ª do Brasil

A atleta taboanense Conceição de Maria Carvalho Oliveira é a segunda colocada na lista das 10 melhores do Brasil, segundo o Ranking da Caixa. Ela contará com os benefícios do Programa Caixa de Corredores de Elite em 2008.
Além de integrar o Programa de Caixa de Apoio, com rendimentos mensais de até R$ 2 mil, Conceição foi premiada com R$ 5 mil.
Ela somou 213 pontos em suas participações na Meia Maratona de São Paulo, Circuito Caixa de Brasília, Meia Maratona de Brasília, Circuito Caixa de Porto Alegre, Maratona de São Paulo, Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro, Circuito Caixa de Fortaleza, Circuito Caixa de Ribeirão Preto, Corrida da Integração de Campinas, Circuito Caixa de São Paulo, Circuito Caixa de Curitiba, Volta da Pampulha, Corrida Pan-Americana, e na Corrida de São Silvestre.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Hospital Pirajuçara: para cada bebê, uma árvore

O Hospital Geral do Pirajuçara começou a distribuir ontem, 2ª-feira 14 de janeiro, uma muda de árvore ipê a todas as mães que derem à luz naquele local.
A estimativa é que neste mês de janeiro sejam distribuídas 250 mudas.
A administração do hospital já plantou 327 árvores na área do hospital, que é estadual e gerenciado pela Escola Paulista de Medicina.
“Além de arborizar o terreno do hospital, queremos disseminar o verde por todo o seu entorno, dentro do nosso projeto de humanização no atendimento, e estímulo à consciência ecológica”, explica o superintendente doutor Nacime Salomão Mansur (foto à direita).

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Depoimento de Valdevan à Polícia é adiado

Foto: Eduardo Toledo
Está programado para esta semana o depoimento do vereador Valdevan Noventa (foto acima) na Delegacia Seccional de Polícia de Guarulhos, sobre o assassinato de Renato Oliveira, 42 anos, executado a tiros às 7h da manhã da última 6ª-feira, 11 de janeiro. Valdevan, do Partido Verde de Taboão da Serra, deveria ser ouvido pela Polícia naquele mesmo dia, mas seu comparecimento foi adiado.
Renato Oliveira ia com seu Honda Civic ao encontro de Valdevan no aeroporto de Cumbica. Ao passar por um cruzamento na avenida Paulo Francini, dois homens em uma moto dispararam três vezes contra a cabeça dele.
Cerca de 10 minutos antes de morrer, Renato chegou a telefonar para Valdevan, mas não foi atendido. “Eu estava descendo do avião”, justifica Valdevan, que estava retornando de uma viagem a Alagoas.
Para o delegado seccional Luiz Alberto de Souza Ferreira, o caso é de difícil solução. “Ele [Renato] era sindicalista e estava em campanha eleitoral”, pondera o delegado.
Valdevan e Renato Oliveira tinham vários elos de ligação. Ambos são da diretoria do Sindicato dos Motoristas e Cobradores do Estado de São Paulo; Renato era presidente e Valdevan é tesoureiro de uma cooperativa habitacional, além do envolvimento com a política.
A Polícia mantém várias informações em segredo, para não prejudicar as investigações. Mas há uma opinião comum nos corredores da Secretaria da Segurança Pública: “Este homicídio foi coisa de profissional”, diz um investigador que pediu anonimato.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Vinícius marca mais um, e classifica o Cats

Foto: Eduardo Toledo
Terminou em 1x1 o jogo realizado no Estádio José Feres na tarde deste domingo, 13 de janeiro, entre o Clube Atlético Taboão da Serra (Cats) e o Juventude, do Rio Grande do Sul. O empate favoreceu os dois clubes na classificação para a segunda fase da Copa São Paulo de Juniores – ambos fecharam a primeira etapa com sete pontos, mas o saldo de gols (nove contra seis) deu a liderança do grupo E ao time da casa.
O Juventude largou na frente. Aos 14 minutos do 1° tempo Esquerdinha cruzou e Evandro fez de cabeça. Aos 23, o artilheiro Vinícius igualou o placar com uma cobrança de falta.
O primeiro adversário do Cats no mata-mata será o Marília FC, do Maranhão. Somente na tarde da 2ª-feira, 14 de janeiro, o departamento técnico da Federação Paulista de Futebol confirmará o local e horário do jogo.

Bando de Taboão aterrorizava Araraquara

Polícia apreendeu várias armas com a quadrilha
Décio Douglas da Silva Corrêa, 20 anos, Leandro Oliveira Dorico, 20, Rafael Nascimento, 21, Joelson de Jesus Nascimento, 21, e Tânia de Souza, 21, foram presos na madrugada do sábado, 12 de janeiro, em Araraquara, no interior de São Paulo. Os quatro bandidos e a mulher são de Taboão da Serra.
A quadrilha tinha vários alvos definidos por meio de fotos e filmagens em um telefone celular. A Polícia investiga sua ligação com a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Os criminosos disseram que os alvos dos assaltos eram indicados pelo dono de hotel Antonio Aparecido Azevedo, que nega.

Primeiramente o grupo invadiu uma casa na Vila Velosa. Renderam a dona da casa, uma amiga que a cumprimentava pelo aniversário, e duas crianças de três e 10 anos. Provavelmente os criminosos invadiram um alvo errado. “Perdi a conta de quantas coronhadas levei. Eles gritavam exigindo um cofre que não temos. Um deles apertava o spray de ‘bom-ar’ e acendia fósforo perto da nossa pele”, relata a vítima que pede anonimato. “Eles diziam a todo momento que iriam estuprar a filha da minha amiga com o termômetro”.
Armados e usando rádios comunicadores, os ladrões levaram jóias, R$ 279 em dinheiro, videogame, bebidas, máquina fotográfica digital e um carro Fox, abandonado pouco depois. Os ladrões deixaram os bens roubados no hotel, e seguiram para o segundo assalto.
No meio do caminho mudaram a rota. Resolveram roubar um homem que chegava em casa no bairro Jardim Santa Rosa, do outro lado da cidade. A vítima era o soldado PM Luis do Amaral, 46 anos. Ele reagiu, foi baleado no peito, a bala transfixou e ele corre risco de morte na UTI da Santa Casa de Araraquara. Uma viatura da PM captou o roubo do relógio e da arma do colega, e prendeu a quadrilha na região central daquela cidade.
O bando confessou ter agido em Araraquara nas últimas semanas.

Herdeiros da cratera do Metrô vivem em Taboão

Thaís estava grávida de sete meses quando perdeu o marido

Kauã Adriano Ferreira da Silva completará um ano de vida no próximo dia 22 de fevereiro. Ele nasceu 40 dias depois de seu pai Wescley Adriano da Silva
ser tragado pela cratera do Metrô, durante a construção da Linha 4-Amarela, que ligará o bairro da Vila Sônia à Estação da Luz, na Capital de São Paulo. A tragédia completou um ano no último sábado, dia 12 de janeiro.
Wescley tinha 22 anos, e trabalhava há seis meses como cobrador de um microônibus, cujo ponto final da sua linha Casa Verde-Pinheiros ficava ao lado da futura galeria do Metrô. A Cia. do Metropolitano chegou a alegar que o desmoronamento da obra não causara vítima. Mas, o coletivo era rastreado por satélite que acusava estar o veículo soterrado naquele lugar. O corpo de Wescley só foi retirado dos escombros seis dias depois. Além dele, morreram outras sete pessoas.

Elenilda dos Santos, 43 anos, mãe do cobrador mudou-se para Natal/RN, onde o filho está sepultado. Ela não conseguiu retomar o ritmo normal de vida. Diariamente pessoas a paravam nas ruas para perguntar alguma coisa sobre o filho “engolido” pela obra. Elenilda foi a única parente de vítima do Metrô que se negou a fazer acordo por indenização com as empreiteiras da obra. “Processei o Estado. Quero os culpados punidos”, diz. No último sábado, foi realizada uma missa na capital potiguar pelo ano da morte do cobrador.

A viúva Thais Ferreira Gomes resolveu recomeçar a vida em Taboão da Serra. Com o dinheiro (não revelado) da indenização pela morte de Wescley, ela comprou uma casa ainda sem acabamento na cidade. Thaís vive com uma pensão de R$ 600,00 e um plano de saúde restrito à Capital.

Perto do coração do Vale do Ribeira

Expedición Donde Miras chega a Miracatu, a 140 km da Capital

A Caminha Cultural pela América Latina, organizada pelo Sarau do Binho, emitiu neste domingo, 13 de janeiro, mais um relatório de viagem. A Expedición Donde Miras começou no último dia 5 de janeiro com intervenções artísticas nas cidades de Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, e Juquitiba. Nesta primeira etapa, os expedicionários culturais vão caminhar até Curitiba/PR. A caravana vai percorrer ainda Paraguai, Uruguai e Chile.
Atualmente os artistas-expedicionários caminham em direção ao município de Miracatu, que na língua tupi significa “terra de gente boa”. A localidade tem 24.906 habitantes, e fica a 137 km da Capital de São Paulo.
Crônica de viagem da expedicionária Diane Padial*:
“Saímos de Juquitiba pela manhã, por volta das 09:00 hs. Decidimos que iríamos por trecho alternativo; a quilometragem variava segundo alguns informantes. Teríamos 20 km, e fomos, estradinha de terra, sombra e muitas águas de formas variadas, lagos, riachos cachoeiras...
Depois de uns três quilômetros, o café da manhã foi sobre a ponte do Rio Juquiá, em meio à mata. Paisagem de deixar qualquer um estarrecido ao vislumbrar aquela natureza toda para nosso desfrute. A toalha foi estendida no beiral lateral da ponte. Mas, antes, enquanto o carro de apoio não chegava, grande parte do grupo começou a desbravar aquele paraíso - alguns caminhavam, outros mergulhavam, alguns tomavam sol para um bronze, sobre as pedras da cachoeira.
Experiências inesquecíveis e inéditas, momentos de romper barreiras interiores, medos. E daí alguém ousa a praticar tirolesa e lá vai um, dois, e aí a farra: “Chibummmm!”. A aquela água presenteada por todos os deuses, merecida para refrescar os corpos cansados e suados da caminhada. A beleza do rio, desfrute único.
Pela frente ainda o dia todo com mais 12 km a caminhar sob um sol escaldante, que no asfalto que nos esperava representaria 40 graus. Conversas, fotos. Todos alimentados, seguimos para Santa Rita depois da Serra.
No percurso recebemos a ligação de que conseguimos um local para ficar em Santa Rita.
Este dia foi uma exceção. No trajeto, teríamos que atravessar a serra de carro, por uma medida de segurança. Havia muitos trechos sem acostamento, comprometendo a caminhada, e assim foi feito. Os dois carros de apoio desceram até Santa Rita, transportando as pessoas. Enquanto uma turma era conduzida, a outra aguardava num posto de gasolina o retorno. Foi um percurso demorado – 64 km de ida e volta. Quem foi a frente iniciou a limpeza do alojamento e a preparação do almoço.
Neste lugar não havia nada programado. Rapidamente abrimos contato com um mercadinho, e ai fizemos um belo churrasco na quadra de esportes do vilarejo. A chegada de todos nós causou muita curiosidade nos moradores daquela comunidade.
Passamos a pesquisar o lugar, conhecer seus moradores e pontos de atração. As crianças foram os primeiros a aparecer no alojamento. Uma em especial nos adotou, o Enio. Ele passou a nos dar toda as informações da localidade, e nos levou para conhecer o Rio, ali pertinho no final da rua. Fomos seguindo uma trilha, e lá estava uma beleza que traz à tona uma compreensão mínima do que é viver naquele vilarejo ao lado do rio. O desprendimento dos meninos caindo na água, a tirolesa novamente presente, aquele barro, beleza...
A equipe do cinema prepara a apresentação de filme na parede do alojamento. As poucas pessoas vão passando e ficando. Estamos na rua mais movimentada dentre as pouco mais de três existentes. Pessoas sentam-se na calçada e assistem de lá mesmo. As crianças são o maior público. Vários jovens, sentados em suas bicicletas, assistem da rua a sessão de curtas metragens. Alguns do nosso grupo dirigem-se aos espectadores conversando sobre os propósitos da expedição.
Surge a pessoa que articulou a nossa estadia no vilarejo de Santa Rita, ao pé da serra, o Vereador Bicoito. Então vamos conversando com esta pessoa simples demais, frentista de um posto de gasolina. Ele vai nos relatando muitas histórias sobre aquele lugar, seus modos e costumes, aquela gente ali do Vale. Regados a cerveja do barzinho do pai do menino Ênio, a conversa vai fluindo, e o cansaço vai afastando os caminhantes para o descanso.
No dia seguinte partiríamos para Miracatu, com 28 km a nossa frente para ser vencidos. Novo lugar, novas pessoas, novas histórias. A natureza entrando gente a dentro, purificando nossas almas, valores e construção interior. Conhecimento se emaranhando às nossa indagações, e assim seguimos cansados, mas com um ânimo absoluto diante de nossas buscas.
E segue a Expedición Donde Miras.
Salve!!!”
* Diane Padial é irmã de Robinson Padial, o Binho, idealizador do projeto, e esposa de Serginho Poeta, parceiro do cunhado no livro Donde Miras que inspirou e deu o nome à expedição.

Crônica da poetisa Tula Pilar:
"Nossa primeira parada depois de Juquitiba e após 14 km de caminhada, foi no posto de gasolina onde o Vereador Biscoito trabalha. Após tomarmos água, fomos visitar uma reserva indígena Tupi Guarani. Fomos recebidos pela Sara (nome em português), que é professora da aldeia. Para a nossa decepção, os habitantes estavam trabalhando fora vendendo artesanato - inclusive a cacique.
Conversamos um pouco enquanto alguns compravam artesanatos, arcos e flechas, zarabatanas e faixas para o cabelo. Em seguida fizemos uma roda para dançar, enquanto a Sara cantava.
Fomos embora emocionados ao som do canto suave e maravilhoso daquela moça.
Aueté, Sara!!!”

Foto: Ailton Luiz Gouveia

A estação ferroviária de Miracatu foi construída pelos ingleses em 1914. Ligava Santos-Juquiá. Em 1997 o transporte de passageiros foi suspenso, depois de 84 anos. A linha serviu aos trens de carga até o início de 2003, quando a queda de barreiras interditou a linha, coberta rapidamente pelo mato.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Amigo de Valdevan Noventa é executado

Por volta de 7h desta 6ª-feira, 11 de janeiro, o presidente da Cooperativa Habitacional do Estado de São Paulo, Renato Oliveira, 42 anos (foto à esquerda), foi executado no cruzamento das avenidas Paulo Faccini e Monteiro Lobato, no município de Guarulhos.
O tesoureiro da cooperativa, Valdevan Noventa (foto à direita) - que também é vereador de Taboão da Serra -, esteve no local por volta das 9h e declarou à reportagem do GuarulhosWeb que Renato teria saído da casa onde mora, no bairro Maia, perto das 6h, a bordo de um Honda Civic de cor prata, para buscá-lo no Aeroporto Internacional André Franco Montoro.
Valdevan, que chegava de uma viagem a Aracajú, capital de Sergipe, disse que Renato chegou lhe telefonar às 6h47. "Não atendi porque estava descendo do avião. Ele morava em Guarulhos há um ano, era evangélico, não tinha rincha com ninguém", revelou.
Ainda segundo o vereador, Renato estaria passando pela avenida Paulo Faccini, quando foi executado com um tiro que entrou pelo vidro traseiro do passageiro do lado direito e teria atingido sua cabeça. Logo após o disparo, o carro bateu no poste do semáforo do cruzamento das avenidas Paulo Faccini e Monteiro Lobato. No asfalto, ainda é possível ver as marcas de aceleração do pneu. O impacto fez com o air bag fosse acionado.
Renato também era assessor da diretoria do Sindicato dos Cobradores e Motoristas do Estado São Paulo, do qual Valdevan Noventa também é diretor.
(Juliana Santos - do site GuarulhosWeb)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Uma canção para los expedicionários

Expedición Donde Miras - Caminhada Cultural pela América Latina, é uma iniciativa do Sarau do Binho. Vinte e cinco artistas partiram no sábado 5 de janeiro em direção a Curitiba. A etapa final da expedição será Valparaiso, no Chile. Já passaram as cidades de Taboão da Serra, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, e nesta 5ª-feira percorrem São Lourenço da Serra, rumo a Juquitiba, a 73km da Capital. (Clique na foto para ampliar)

Atahualpa Yupanqui é o pseudônimo do compositor e escritor argentino Héctor Roberto Chavero. Ele nasceu em 22/01/1908 na província (estado) de Buenos Aires, em uma cidade chamada Pergamino – com este nome de terra natal, ele tinha de seguir o caminho das letras, nénão? Foi o maior criador e divulgador da música folclórica da Argentina. Seu nome artístico é uma homenagem a Atahualpa e Tupac Yupanqui, os últimos governantes incas.
Seu pai era um índio quéchua, empregado de uma ferrovia, e sua mãe, basca.
Na adolescência, Atahualpa caminhava 30 quilômetros (distância de ida e volta de sua casa até a escola do concertista Bautista Almirón) para aprender violão.
Além do extenso cancioneiro, deixou nove livros publicados. Morreu em 23 de maio de 1992, em Paris.

Vinícius, o novo rei de Taboão da Serra

Atleta mora em Osasco, e foi revelado pelo Pequeninos do Jockey
Foto: Eduardo Toledo
Vinícius marcou dois gols em cada tempo do jogo

O atacante Vinícius marcou quatro gols na vitória do Cats (Clube Atlético Taboão da Serra) por 5x1 sobre o Juventus, na tarde da 4ª-feira, 9 de janeiro. A partida foi no Estádio Municipal José Feres, aqui em Taboão da Serra, que sedia os times do Grupo E na primeira fase da Copa São Paulo de Juniores.

Vinícius abriu o placar logo no início do jogo (segundo o site Final Sports, do Rio Grande do Sul, o gol saiu no primeiro minuto; para o site O Taboanense, foi aos 3 minutos). Seus outros gols foram aos 27 minutos do 1° tempo, e no 2° tempo aos 2 e aos 19 minutos.
O atacante só não foi o artilheiro da rodada porque Paulo Sérgio, do Flamengo, marcou cinco gols.
Vinícius é filho de uma família muito humilde, residente no município de Osasco. Ele é uma revelação do Clube Pequeninos do Jockey. O atleta já viajou com este clube para Itália, Alemanha, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega. Há propostas para o jovem talento ir para o futebol da Europa.

Sua carreira profissional será uma redenção financeira para seus pais, a exemplo de outros ex-meninos pobres iniciados no Pequeninos do Jockey como Zé Roberto, Julio Baptista, e mais recentemente Diogo, da Portuguesa.

O técnico do time de Taboão da Serra Cláudio Araújo, o Claudinho, também deu seus primeiros chutes da carreira no Pequeninos do Jockey.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Taboanense foi presa por dívida de R$ 40

Tribunal de Justiça mandou prender dona-de-casa que não pagou cinco calcinhas

Este caso aconteceu em 17 de dezembro passado. Como o comentei com várias pessoas, e muitas delas não tiveram conhecimento do fato – envolvidas talvez pelo clima de final de ano – a história merece ser recontada aqui no nosso boteco.
Uma moradora de Taboão da Serra, de 40 anos e que pediu para não ser identificada, foi ao Poupatempo de Santo Amaro retirar a segunda via de seu RG, numa 2ª-feira, dia 17 de dezembro de 2007. Estava acompanhada de duas filhas, uma de dois anos e outra de 10.
Ao invés da carteira de identidade, a mulher recebeu voz de prisão. Ficou por meia hora atrás das grades da Divisão de Capturas da Delegacia Geral da Polícia Civil. A ordem partiu do Tribunal de Justiça de São Paulo, pois a dona-de-casa havia comprado e não pagou cinco calcinhas quando morava em Mongaguá, em 2005.
A dívida original era de R$ 40; com a correção, passou a R$ 87,25.
A mulher diz que mudou-se do litoral para Taboão da Serra, pois foi abandonada pelo marido, e ficou em situação difícil. “Além deste dinheiro das calcinhas, eu devia R$ 210 para o dono da venda onde eu comprava comida”.
A vendedora de calcinhas acionou a Justiça. A devedora chegou a penhorar uma cômoda como garantia da dívida. Mas quando mudou-se para Taboão da Serra, vendeu a casa e os móveis.
A lei brasileira prevê a prisão de pessoa que venda um bem à disposição da Justiça. Além disto, a mulher não compareceu a uma audiência. “Nem passou pela minha cabeça ir ao Fórum por causa daqueles R$ 40. Não matei, nem roubei!”, diz.
A dona-de-casa só pôde voltar para seu lar em Taboão da Serra quando sua família arranjou emprestado o dinheiro para pagar as calcinhas. A mulher está traumatizada: “Agora, todas as vezes que fecho os olhos pra dormir, fico vendo aquela cela da cadeia na minha frente.”

Blog faz operadora de caixa ficar famosa na França

da Agência Efe, em Paris
Uma jovem francesa ficou famosa graças a um blog (http://caissierenofutur.over-blog.com/) no qual narra sua experiência como caixa de um supermercado da periferia de Rennes (oeste).
Nos últimos dias, Anna Sam passou a dar várias entrevistas depois que seu diário virtual, chamado "Caixa sem Futuro", superou a marca de 120 mil visitas.
Com um diploma universitário em Lingüística, Anna, de 28 anos, começou a escrever o diário virtual em abril do ano passado.
Na edição deste domingo do periódico francês "Le Journal du Dimanche", a jovem conta que gente de todo tipo freqüenta supermercados e que várias vezes ouviu mães dizendo aos filhos frases como "Estude. Do contrário, acabará como esta mulher".
Foi em casa, após o expediente, que Anna encontrou uma válvula de escape. No blog que criou, ela narra os fatos marcantes do seu dia, que, embora nem sempre sejam divertidos, a transformaram numa espécie de embaixadora das 170 mil operadoras de caixas de supermercados que trabalham na França.
Numa ocasião, a francesa contou como chorou quando foi insultada por um cliente por não ter uma sacola plástica à mão.
Em outra, escreveu sobre a surpresa, fingida ou real, que algumas pessoas demonstram quando o alarme toca e um cliente leva as compras sem pagar.
Anna também já viu vários casais brigando por causa da conta e achou curioso um homem que, horas depois de comprar filmes infantis com os filhos usando cartão de crédito, voltou ao mercado e pagou à vista por uma fita pornô.
No entanto, recentemente, a jovem tomou uma decisão radical. Oito anos e uma tendinite depois, resolveu deixar o emprego de operadora de caixa e procurar um novo trabalho.
Porém, ela continuará com seu blog na internet, já que tem várias outras lembranças para contar.
Além disso, Anna foi procurada por um editor de Paris e pode escrever um livro sobre suas experiências.

Márcia: escravizada pelo mercado da luxúria

A triste história de Márcia Ferro que, desempregada aos 43 anos, voltou aos filmes “adultos”

Em 1989, eu trabalhava na Câmara Municipal de Taboão da Serra. Meu colega de trabalho Osvaldenir Stocker, o Gaúcho, na época assessor do ex-vereador Said e colunista de Cultura na Gazeta do Taboão me falou: “Abriu um teatro no Bixiga. É da Márcia Ferro. Em uma cena ela se dirige de frente pro ator, coloca a perna no ombro do cara, e a homarada urra na platéia”.
Era a primeira vez que eu ouvia falar da tal ‘atriz’. No final do ano passado, voltei a saber dela, na triste história que conto a seguir.

Quando estava com 21 anos, Márcia Ferro caminhava pela Avenida Cásper Líbero, na região central da Capital de São Paulo, e foi abordada por um homem. “Ele se apresentou como produtor de cinema, e me propôs fazer um filme pornô”, conta. Ela titubeou um pouco, mas ficou com o número do telefone do diretor Raffaele Rossi, pioneiro do cine pornô brasileiro.
Fazia pouco tempo que a moça havia saído de casa. “Meu pai [hoje tenente da reserva] era muito rude com a gente. Minha mãe era bem carinhosa, e quando ela morreu, o clima em casa ficou insuportável”. Márcia sempre estudara em colégio de freiras, porém o machismo do pai não dava trégua. “Falei que queria estudar odontologia, e ele disse que eu só atenderia mulheres!”.
Por estranha ironia, quando Márcia resolveu aceitar a proposta do produtor, foi escalada para cenas de lesbianismo. “Foi um choque para mim. Mas eu queria a fama e o dinheiro do cinema, e fiz outros 38 filmes”, diz a ‘atriz’.
A fama de Márcia Ferro correu o mundo, principalmente em fitas de zoofilia dirigidas pelo filipino Juan Bajon. A jovem teve um início de carreira onde acomodou muito seus quadris entre as patas traseiras de cavalos e cães em filmes como “Minha Égua Favorita”, “Meu Cachorro, Meu Amante”, “Duas Mulheres e um Pônei”, etc.
Na década de 1990 os filmes explícitos perderam mercado para as fitas cassetes.
Foi quando ela comprou o Teatro Terra Nova no bairro da Bela Vista. A casa passou a chamar-se Teatro Márcia Ferro, confiante na força do nome da ex-rainha da Boca do Lixo. Com a morte de seu sócio vitimado pela Aids, Márcia vendeu o teatro. Casou-se e comprou um sítio em Caucaia do Alto, na região de Cotia, na Grande São Paulo.
O casamento, do qual nasceu uma menina no final de 1998, desfez-se. O ex-marido entretanto negou-se a assinar o divórcio.
Márcia foi trabalhar como monitora de creche. Quando um extinto jornal sensacionalista descobriu seu paradeiro em maio de 1999, o mundo de Márcia caiu mais uma vez: "Foi um absurdo. Não tinha como eu passar fome”, protesta hoje a ‘atriz’. “Eu morava numa chácara, onde tinha terra para plantar e estava perto de agricultores e sitiantes. Não estava mais na atividade de cinema, mas estava trabalhando!”
Quando conseguiu afinal o divórcio em 2006, com sua parte na venda da chácara Márcia comprou um apartamento e voltou a morar na Capital. "Distribuí currículos [para as vagas] de monitora de creche e recepcionista de hotel. Eu fiz um curso de hotelaria, mas nunca fui chamada para uma entrevista, um teste".
Em uma de suas andanças por agências de emprego da Rua Sete de Abril, ela ouviu alguém gritar seu nome. “Deve ser algum fã do tempo que eu atuava”, deve ter pensado, e não atendeu. Na terceira vez, olhou para trás e reconheceu um amigo. “Ele me perguntou por que eu não voltava para o cinema pornô”.
Desta vez, não mais pensando em fama, mas com uma filha para sustentar, aos 43 anos, 1,68m e 60kg, Márcia Ferro voltou às telas em “A Idade da Loba”.
Com parte do cachê, comprou mais um apartamento, e o aluga para compor sua renda. No ano passado, voltou à cena em “A Curra”.
A nova onda do pornô mundial de contratar atrizes veteranas, recebeu a sigla MILF (Moms I Would Like to Fuck, mamães que eu gostaria de comer).